O real foi a moeda que mais perdeu valor nesta terça-feira, 23, perante o dólar entre 34 divisas, em dia que a moeda dos Estados Unidos ganhou força no mercado global e operadores relataram saídas de capital externo do Brasil. A moeda americana subiu ante divisas de países fortes e emergentes após Washington fechar acordo para suspender o teto da dívida americana até 2021 e autoridades sinalizarem avanço das conversas comerciais entre a China e os Estados Unidos. O dólar à vista fechou em alta de 0,92%, a R$ 3,7728, nível mais alto desde o último dia 9.
Com a agenda local novamente fraca e as mesas de câmbio aguardando os eventos dos próximos dias, que inclui o anúncio de medidas de estímulo do governo para a economia e a reunião de política monetária do Banco Central Europeu, foi o mercado internacional que guiou as cotações do dólar aqui. A moeda americana chegou a operar em R$ 3,74 na mínima do dia, pela manhã, mas um movimento de saída de recursos acelerou a compra de dólares e levou a moeda para as máximas, em R$ 3,7763.
"Sem o político, o mercado está se guiando pelo exterior", ressalta o gerente da mesa de câmbio da corretora Tullet Prebon, Italo Abucater. "Com o recesso no Congresso, perdemos também o volume de negócios", acrescenta. Hoje, a liquidez aumentou um pouco, mas ainda ficou abaixo da média de pregões normais. No mercado futuro, o giro estava em US$ 15 bilhões até às 17h15, ante US$ 18 bilhões da média. A expectativa é que o volume volte a crescer na semana que vem, quando vencem os contratos futuros de dólar de agosto e é definido o referencial Ptax do mês. No mercado à vista, o giro foi de somente US$ 712 milhões.
No mercado doméstico, a inflação fraca do mês, medida pelo IPCA-15 divulgado hoje, e que veio abaixo do esperado, também acabou influenciando as mesas de operação de câmbio. Ao reforçar a aposta de corte mais forte de juros, a avaliação dos operadores é que o real pode ser tornar uma moeda ainda menos usada para o chamado "carry trade" (tomar dinheiro em país de juro baixo e aplicar em país de juros alto). "O BC vai cortar os juros em 0,50 pontos", prevê o economista para América Latina da Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia, ao comentar os dados do IPCA-15.
O Bank of America Merrill Lynch revisou as projeções para o câmbio e espera que o dólar fique agora em R$ 3,70 no final deste ano, se mantendo neste nível em 2020. Antes, o banco esperava a moeda americana em R$ 3,80 e 3,90 para este ano e no próximo. Menos incerteza sobre o cenário doméstico, bancos centrais cortando juros na economia mundial e a expectativa de várias ofertas de ações no Brasil devem elevar a entrada de dólares no país, fortalecendo o real. Já a aprovação da reforma da Previdência está precificada nas cotações. Para o real se valorizar mais, é preciso progresso em outras frentes, destaca o banco em relatório nesta terça-feira.