O mercado de juros futuros se apoiou no IPCA-15 de julho abaixo da mediana das expectativas para ampliar as apostas de que Copom inicie o ciclo de afrouxamento monetário com uma redução da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual no fim do mês (dias 30 e 31). Também contribuiu para a maré a favor de um corte inaugural mais forte a possibilidade de o governo limitar os saques do FGTS neste ano a R$ 500, o que não traria impactos relevantes no consumo das famílias e, por tabela, na trajetória dos índices de preços. Além disso, o mercado monitora ainda as mudanças no mercado de gás, que pode reduzir os preços de energia e contribuir para manter a inflação abaixo da meta.
Cálculos da gestora Quantitas mostram que, de acordo com as taxas futuras, as chances de corte de 0,50 ponto subiram de 57% ontem para 67% nesta terça-feira. No fim da semana passada, estavam em 46%. Também houve alteração da estimativa para o ciclo total de afrouxamento monetário, de cerca de 1 ponto porcentual no dia 19 para 1,25 ponto hoje. A queda das taxas futuras na sessão desta terça-feira se deu em um ambiente de boa liquidez, o que, segundo operadores, mostra um realinhamento significante das expectativas para a política monetária.
Entre os contratos mais curtos, o DI para janeiro de 2020 - mais ligado ao rumo da Selic até o fim do ano - fechou a 5,60%, ante 5,64% ontem. Na parte intermediária da curva, o DI para janeiro de 2021 caiu de 5,48% para 5,42%, em um pregão de 356,7 mil contratos negociados, bem superior ao observado ontem (132 mil) e à média da semana passada (204 mil). O DI para janeiro de 2023 encerrou o dia a 6,31%, ante 6,36%. Na parte longa da curva, o contrato com vencimento em janeiro de 2025 desceu de 6,94% para 6,87%.
A redução dos prêmios começou já pela manhã com a divulgação do IPCA-15 de julho. Depois de alta de 0,06% em junho, o índice subiu 0,09% em julho, abaixo da mediana (0,13%) das expectativas dos analistas do mercado financeiro consultados pelo Projeções Broadcast. Nos 12 meses encerrados em julho, o indicador ficou em 3,27% - também abaixo da mediana de 3,31%.
Para o economista Victor Candido, sócio da Journey Capital, a despeito do nível elevado da ociosidade da economia e da boa ancoragem das expectativas inflacionárias, os investidores "estão indo longe demais" ao apostar que o Banco Central possa iniciar o processo de redução da Selic com um corte de 0,50 ponto. "É fato que existe espaço para reduzir juros faz algum tempo. Mas o mercado parece que não leu as últimas atas do Banco Central. Um corte de 0,50 não estaria em linha com a comunicação recente do BC", diz Candido, ressaltando que, pelas últimos documentos da autoridade monetária, até a manutenção da Selic em 6,50% na reunião deste mês não seria surpresa.