Jornal Correio Braziliense

Economia

Incerteza gera perdas

Em meio às incertezas sobre a agenda econômica do governo, os investidores continuam em compasso de espera e o Produto Interno Bruto (PIB) encolhe. Um estudo da Tendências Consultoria mostra bem o impacto da falta de confiança na economia desde os anos 2000. ;Podemos constatar que, ao longo dos anos, toda vez que a incerteza aumentou, o PIB do país encolheu. Apenas no ano passado, quando havia muita oscilação das expectativas em meio às eleições, a perda de riqueza chegou a R$ 40 bilhões, pelas contas. Isso quer dizer que o nosso PIB poderia ter crescido 1,7% em vez de apenas 1,1%;, explica o analista Lucas Souza, um dos autores da pesquisa.

Pelas contas de Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), neste ano, devido à falta de confinça, esse indicador essencial para a retomada do crescimento sustentável vai crescer 1% neste ano, descontando a poluição contábil das importações de plataformas antigas. Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco, também reconhece que o investimento está muito fraco. ;Muitas empresas ainda estão esperando um momento de maior certeza para implementar qualquer plano de investimento;, explica.

Na avaliação de Newton Rosa, da Sul América Investimentos, a melhora no ritmo de recuperação da economia, daqui para frente, dependerá da melhor articulação do governo nas medidas pós-reforma da Previdência. ;Se o governo destravar a agenda de reformas estruturantes, como a tributária, e andar com o programa de privatizações e de concessões, pode ser que ocorra um ganho de confiança que poderá dar maior dinamismo no segundo semestre;, pontua.

O economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, destaca que o governo tem poucos instrumentos para estimular a economia: a liberação do FGTS e o corte de juros. No caso dos juros, o impacto não será imediato (até seis meses) na atividade. No entanto, o corte em si ajudará a recuperar a confiança. ;Mas o cenário internacional não está favorável, pois a Argentina, que é um dos principais parceiros comerciais do Brasil, está em situação bastante crítica e isso também afeta a confiança;, alerta.

Especialistas criticam o fato de o presidente Jair Bolsonaro continuar perdendo muito tempo com a agenda de costumes em vez de dedicar nos trabalhos para a retomada do crescimento e na diminuição do desemprego. ;Temos 13 milhões de desempregados, 28 milhões de trabalhadores subutilizados. Isso é uma tragédia social;, lamenta o economista Simão Davi Silber, professor sênior da Faculdade de Administração e Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP). ;As expectativas têm piorado ao ver que o presidente não tem um norte. Não é espantoso em não vermos uma recuperação forte na economia e, muito menos, uma taxa de desemprego e uma capacidade ociosa da indústria gigantescas;, acrescenta, lembrando que o quadro poderia ser pior sem o teto de gastos. (RH)