Economia

Petrobras se recusa a abastecer navios iranianos devido a sanções dos EUA

Bolsonaro afirmou que as empresas brasileiras foram alertadas sobre os riscos de não aderir ao bloqueio de Washington ao Irã

Thaís Moura*, Rodolfo Costa
postado em 19/07/2019 21:05
Um dos navios iranianos ancorados no Paraná: Petrobras não quis correr riscosAs sanções impostas ao Irã pelo governo norte-americano começam a impactar negócios do Brasil com o país persa. Após evento de celebração do Dia do Futebol, no Ministério da Cidadania, nesta sexta-feira (19/7), o presidente Jair Bolsonaro comentou a recusa da Petrobras em abastecer dois navios iranianos ancorados perto do porto de Paranaguá (PR) e afirmou que as empresas brasileiras foram alertadas sobre os riscos do bloqueio de Washington às relações comerciais com o Irã.

"Existe esse problema. Os Estados Unidos de forma unilateral, pelo que me consta, têm embargos levantados contra o Irã. As empresas brasileiras foram avisadas por nós desse problema e estão correndo o risco nesse sentido, e o mundo está aí", declarou o presidente.

"Estou me aproximando cada vez mais do (presidente Donald) Trump. Fui recebido duas vezes por ele, (líder da) primeira economia do mundo e do segundo mercado do mundo. O Brasil está de braços abertos para fazer acordos e parcerias, pelo bem de nossos povos. O Brasil é um país que não tem conflito em nenhum lugar do mundo, graças a Deus. Pretendemos manter essa linha, mas entendemos que outros países têm problemas e nós, aqui, temos que cuidar dos nossos em primeiro lugar;, acrescentou Bolsonaro.

Risco

Devido a sanções comerciais dos Estados Unidos, em conflito com o Irã, pelo menos dois navios iranianos estão parados próximos do porto de Paranaguá, no Paraná, desde o início de junho. Isso porque a Petrobras optou por não abastecê-los, para não ficar sujeita ao "risco de ser incluída na mesma lista (de empresas sob sanções norte-americanas)" que a empresa iraniana. Segundo a petroleira, em nota divulgada nesta sexta-feira (19/07), a companhia poderia sofrer graves prejuízos caso seja enquadrada em sanções dos EUA.

A Petrobras ainda ressaltou que "existem outras fornecedoras de combustível no país". "A companhia mantém seu compromisso em atender a demanda de seus clientes, desde que observadas as normas aplicáveis e suas políticas de conformidade", acrescentou a petroleira. "O risco envolvido na contratação de navios sancionados deve ser de responsabilidade da empresa exportadora, e não da Petrobras, que não tem qualquer relação às atividades comerciais da exportadora".

O professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Antônio Jorge Ramalho, não se surpreende com as medidas tomadas pela petroleira nacional, já que o governo atual ;visa se aproximar dos EUA de uma maneira acrítica;. ;O prejuízo para a Petrobras realmente seria significativo, ela seria impedida de fazer negócios com empresas americanas caso abastecesse os navios iranianos. Mas em relação aos alimentos exportados pelos navios, não são abordados nas sanções norte-americanas;, avalia Antônio.

Para ele, dificilmente a decisão criará conflitos entre o Brasil e o Irã. ;O Irã entende essa decisão nossa, o nosso governo atual tem tentado se aproximar dos EUA de uma forma bem acrítica, mais alinhada, então é normal que nossas empresas reajam assim. O Brasil, no passado, costumava ter mais autonomia, ao estabelecer suas próprias linhas de ação;.

Os navios, Bavand e Termeh, chegaram ao Brasil transportando ureia e estavam previstos para retornar ao Irã com milho brasileiro. No entanto, permanecem parados ao largo do porto até hoje. O Bavand já está carregado com 48 mil toneladas de milho, enquanto o Termeh, ainda vazio, está a cerca de 20 quilômetros do porto de Paranguá.

No último ano, os EUA têm ampliado suas restrições ao Irã, com foco no setor de petróleo. Em contrapartida, o Irã parte para ações militares e tem feito ameaças nucleares contra os estadunidenses. Recentemente, o país também revelou a pretensão de aumentar seu estoque de urânio enriquecido, ultrapassando o limite estabelecido em 2015, por meio de acordo internacional.

Suposta exportadora

Em nota divulgada nesta sexta-feira pelo G1, a suposta exportadora que aluga os navios parados, cujo nome não foi revelado, diz que a importação foi feita com combustível próprio da embarcação, que já se esgotou. A suposta companhia ainda relata não ter alternativa para abastecer os navios, e que a sanção norte-americana não se estende a comida e produtos agrícolas. Segundo a publicação, a exportadora conseguiu uma liminar na Justiça ordenando o abastecimento dos cargueiros, mas teria sido derrubada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. A identidade da proprietária dos navios não teria sido divulgada ;por causa do sigilo do processo;, diz o site.

*Estagiária sob supervisão de Humberto Rezende


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