Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half" />
São Paulo ; Assim que os debates em torno
da reforma da Previdência começaram a ganhar corpo, no fim do ano passado, a empresa brasileira de
consórcios Embracon estabeleceu uma nova política de recursos humanos. Como grande parte da
população precisará trabalhar por mais tempo, a companhia passou a priorizar vagas de emprego para
quem tem mais de 50 anos, em vez de garimpar o mercado apenas em busca de jovens
talentos.
Chamado de Embracon 50+, o programa atinge todos os departamentos da companhia. Com
isso, dos cerca de 3 mil funcionários, perto de 250 têm 50 anos ou mais ; e a meta é triplicar esse
número até o fim deste ano. Do total, 25% ocupam cargos de liderança em média e alta gerência. Os
75% restantes preenchem ocupações variadas.
;Os profissionais mais experientes são
menos imediatistas do que os mais jovens;, justifica Gisele Maziero, analista de bem-estar da
Embracon. ;A geração com mais de 50 anos chega com experiência, além de muita paciência,
especialmente em vendas.;
A boa reputação dos trabalhadores sêniores está expressa em um
estudo elaborado pela consultoria de recrutamento Robert Half. O levantamento constatou que os
executivos de grandes companhias avaliam positivamente o intercâmbio de experiências entre
diferentes gerações. Na pesquisa, 77% disseram que as diferentes visões sobre o mesmo assunto são
benéficas para a empresa. Novas ideias, qualidade do serviço e inovação também foram apontadas como
resultado dessa integração.
O levantamento mostra ainda que 91% das contratantes preferem
trabalhadores mais velhos, principalmente para setores administrativos, que demandam bons currículos
em atividades rotineiras. Apesar da simpatia por essa faixa etária, 80% delas responderam que não
adotam programas específicos para idades mais avançadas.
Essa avaliação apontada pela
pesquisa já se reflete na rotina de algumas empresas. Assim como a Embracon, a Atento, uma das
líderes do setor de call center, mantém uma estratégia de diversidade no quadro de funcionários que
inclui vagas de emprego para maiores de 50. Já o Grupo Pão de Açúcar (GPA) mantém política interna
que busca promover a inclusão social e a qualificação profissional de jovens e de pessoas com mais
de 55 anos, como forma de equilibrar as qualidades e as diferentes visões de mundo dentro da
companhia.
O grupo Cencosud Brasil, a quarta maior rede de varejo supermercadista do
Brasil, contrata cerca de 700 pessoas com mais de 50 anos por ano, desde 2017, por meio de um
processo seletivo exclusivo. A Gol Linhas Aéreas também tem incentivado a contratação por meio do
programa ;Experiência na Bagagem;.
O mesmo caminho tem seguido a gigante brasileira de
tecnologia Totvs. ;É comprovado que empresas que investem em diversidade, inclusive de gerações,
ganha eficiência e dinamismo em um mercado de consumo cada vez mais plural;, afirma Fernando
Mantovani, diretor-geral da Robert Half. ;Além disso, o mercado de trabalho não está absorvendo os
mais jovens;, acrescenta o economista Laércio Menezes, especialista do Insper.
Avanços
Na
avaliação de Jorgete Lemos, diretora de diversidade da Associação Brasileira de Recursos Humanos
(ABRH-Brasil), o mercado de trabalho tem mudado sua postura em relação à contratação de pessoas
acima dos 50 anos. Segundo ela, as empresas não teriam talentos suficientes para dar continuidade
aos negócios sem essa mudança de visão. ;A abertura de vagas para pessoas mais velhas ainda não é
uma regra estabelecida, mas algumas empresas já avançaram, criando programas específicos para a
contratação desses profissionais;, afirma.
A executiva destaca ainda que, atualmente, as
pessoas ainda estão em plenas condições para trabalhar nessa faixa etária. ;Além da experiência e da
responsabilidade características da maturidade, os mais velhos costumam ser ter maior resiliência e
oferecem melhor capacidade de negociação. Por isso, podem ser peças-chave em qualquer equipe de
trabalho.;
A diretora da ABRH-Brasil confirma que, aos que desejam uma vaga no mercado de
trabalho, é preciso agir como qualquer outro candidato. ;Fazer um currículo atrativo, sem
menosprezar suas experiências e capacidades. Usar os canais de relacionamento para cultivar uma rede
e investir em uma ótima apresentação, vendendo sua imagem como profissional capacitado, sem
dramatizar ou se rebaixar pela idade.;
Gradualmente, a maioria das empresas começa a
descobrir que vale a pena contratar candidatos acima de 50 anos. E isso tende a ser algo natural
conforme a força de trabalho segue envelhecendo com mais qualidade.