Jornal Correio Braziliense

Economia

Primeiro emprego: pesquisa diz que 43% não passam do período de experiência

Despreparo e falta de interesse de empresas em treinar novos funcionários inviabilizam permanência de aspirantes ao primeiro emprego. Pesquisa mostra que 48,3% são desligados da função quando termina o contrato inicial de três meses

Conseguir o primeiro emprego nem sempre significa participação duradoura no mercado de trabalho. Pesquisa da consultoria IDados mostra que o trabalhador iniciante fica, em média, quatro meses na empresa contratante. Praticamente o tempo do contrato de experiência, determinado pela legislação brasileira, de três meses. De acordo com o levantamento, quase metade é desligada depois do período de teste.

A pesquisadora e economista Thaís Barcellos, responsável pelo levantamento, afirma que as demissões logo depois do período de experiência ocorrem principalmente por falta de treinamento. ;Os empregadores não têm essa cultura de treinar o empregado, que chega despreparado por ser o primeiro emprego. Durante a crise, com mão de obra disponível, o empregador demite o recém-contratado porque acha que consegue achar alguém mais treinado;, explica. Segundo ela, o desligamento precoce é, em parte, benéfico ao contratante, já que ao demitir neste período, o ônus é muito menor.

Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) Newton Marques, integrante do Conselho Regional de Economia, três meses é um tempo muito curto para garantir capacitação ao jovem em seu primeiro emprego. ;Em geral, a alta rotatividade ocorre ou por falta de preparo dos contratados ou porque é ;mais barato; para as empresas;, argumenta.

Seleção

De acordo com o levantamento da IData, em 2015, aproximadamente um terço dos desligamentos de primeiro emprego ocorreu pelo fim desse contrato de 90 dias. O saldo subiu para 48,3% em 2017. ;No período de teste, assim que o empregador vê que o funcionário não vai dar a resposta que ele precisa, o manda embora e procura outro. É uma questão de mercado. Se não houvesse uma oferta tão grande de mão de obra desqualificada, talvez isso não fosse tão frequente;, justifica Marques.

Apesar do tempo médio de permanência no primeiro emprego formal ter aumentado entre 2011 e 2017, de 3,5 meses para 4,3, esse tempo ainda está longe de ser o ideal para que o trabalhador consiga experiência. Com base na Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2011, 2013, 2015 e 2017, a pesquisa da IDados mostra que 23,4% dos desligamentos no período de ;teste; ocorrem por demissão sem justa causa, enquanto que 22,2%, por pedido.

Débora Dorneles, professora do Departamento de Administração da UnB, explica que as demissões precoces ocorrem porque muitas empresas ;não se preocupam em fazer uma seleção efetiva;. Na opinião dela, a rápida saída do empregado e a alta rotatividade não beneficia ninguém. ;Isso é negativo, porque a empresa perde tempo, por estar com uma pessoa que não funciona, além de impactar a sociedade, ao desempregar um indivíduo que estava esperançoso pelo primeiro emprego;, diz.