A pesquisadora e economista Thaís Barcellos, responsável pelo levantamento, afirma que as demissões logo depois do período de experiência ocorrem principalmente por falta de treinamento. ;Os empregadores não têm essa cultura de treinar o empregado, que chega despreparado por ser o primeiro emprego. Durante a crise, com mão de obra disponível, o empregador demite o recém-contratado porque acha que consegue achar alguém mais treinado;, explica. Segundo ela, o desligamento precoce é, em parte, benéfico ao contratante, já que ao demitir neste período, o ônus é muito menor.
Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) Newton Marques, integrante do Conselho Regional de Economia, três meses é um tempo muito curto para garantir capacitação ao jovem em seu primeiro emprego. ;Em geral, a alta rotatividade ocorre ou por falta de preparo dos contratados ou porque é ;mais barato; para as empresas;, argumenta.
Seleção
De acordo com o levantamento da IData, em 2015, aproximadamente um terço dos desligamentos de primeiro emprego ocorreu pelo fim desse contrato de 90 dias. O saldo subiu para 48,3% em 2017. ;No período de teste, assim que o empregador vê que o funcionário não vai dar a resposta que ele precisa, o manda embora e procura outro. É uma questão de mercado. Se não houvesse uma oferta tão grande de mão de obra desqualificada, talvez isso não fosse tão frequente;, justifica Marques.Apesar do tempo médio de permanência no primeiro emprego formal ter aumentado entre 2011 e 2017, de 3,5 meses para 4,3, esse tempo ainda está longe de ser o ideal para que o trabalhador consiga experiência. Com base na Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2011, 2013, 2015 e 2017, a pesquisa da IDados mostra que 23,4% dos desligamentos no período de ;teste; ocorrem por demissão sem justa causa, enquanto que 22,2%, por pedido.
Débora Dorneles, professora do Departamento de Administração da UnB, explica que as demissões precoces ocorrem porque muitas empresas ;não se preocupam em fazer uma seleção efetiva;. Na opinião dela, a rápida saída do empregado e a alta rotatividade não beneficia ninguém. ;Isso é negativo, porque a empresa perde tempo, por estar com uma pessoa que não funciona, além de impactar a sociedade, ao desempregar um indivíduo que estava esperançoso pelo primeiro emprego;, diz.