Jornal Correio Braziliense

Economia

Juros altos oneram investimentos


Na avaliação de Silvia Matos, da FGV, não há dúvidas de que debelar a inflação foi a missão maior do Plano Real, mas a elevação da taxa de juros, embora hoje no menor patamar da história ; a Selic, taxa básica de juros da economia, está em 6,5% desde março de 2018 ;, continua alta em comparação com as praticadas por outros países, inclusive os em desenvolvimento. Ela explica que juros altos oneram investimentos e tornam as aplicações financeiras bem mais atraentes, o que tem sido um desestímulo a investimentos produtivos de longo prazo, afetando o crescimento e a geração de empregos.

A elevação da taxa básica de juros foi uma estratégia do Plano Real para manter o dinheiro no Brasil, mas no banco, rendendo juros. Esse montante atraído por altas remunerações financeiras segurava a paridade do real com o dólar, o que tornava as importações mais baratas ; mais uma ajuda para segurar a inflação ;, devido à competição dos importados com a produção nacional.;Seria bom se tivéssemos aproveitado para atrair tecnologias e investir na renovação do parque industrial, mas ficou mais no consumo;, diz. Para a economista da FGV, o tripé macroeconômico é uma herança positiva do Plano Real, porém acabou ficando ;capenga sem a variável mágica para fechar a conta: a taxa de juros;.

Apesar do peso que os juros altos representavam para o investimento, entre 2003 e 2007, já no governo Lula, o Brasil viveu uma bonança com os altos preços das commodities no mercado internacional. ;Tínhamos de ter aproveitado esse momento para fazer mais superavit;, avalia Silvia Matos. Para ela, foi o ;boom; das commodities que evitou uma crise no balanço de pagamentos e ajudou a compor reservas internacionais robustas. Ela lamenta, porém, que, na sequência, na gestão de Dilma Rousseff, o governo tenha abraçado uma política expansionista que desorganizou as contas.

;A principal medida é investir em infraestrutura, como ferrovias, energia e saneamento, para empregar também a mão de obra não qualificada, pois já estamos com mais de 13 milhões de desempregados e, com os desalentados, somamos cerca de 28 milhões;, ressalta Paulo Feldmann, professor de economia da Universidade de São Paulo. ;É preciso ter políticas para atrair o capital estrangeiro, principalmente o chinês, mas não existe política. O governo parece ser contra políticas públicas. Tudo é qualificado como ideológico.;

Para Feldmann, também é preciso desenvolver políticas públicas voltadas às pequenas empresas, as maiores geradoras de emprego. ;O Brasil não tem proteção para a pequena empresa. O governo protege as grandes, que não precisam e formam cartéis. Precisamos aprender com a França e com Itália a valorizar o pequeno negócio;, opina. (CD)


  • Ferramenta

    Adotado até hoje, o tripé macroeconômico ; que está entre as ferramentas que institucionalizaram a gestão da economia no Brasil ; é composto por câmbio flutuante, meta de inflação e meta de superavit.