A desigualdade pouco mudou em 13 anos. O relatório The Labour Income Share and Distribution, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado ontem, mostra que enquanto 10% dos trabalhadores do mundo recebem quase a metade (48,9%) do total da remuneração global, 50% dos com menores rendas embolsam apenas 6,4% da massa salarial. Já os 20% mais mal pagos (cerca de 650 milhões) são remunerados com menos de 1% do rendimento mundial.
De acordo com o documento, que avalia 189 países, apesar dos números apresentarem um fosso gigantesco de diferença, houve leve queda desde 2004. Na época, os 10% mais ricos recebiam 55,5% de toda a renda global. No Brasil, esse percentual caiu de 47,7% naquele ano para 41,3%, em 2017. A OIT, entretanto, não atribui essa diferença à ;redução da desigualdade dentro dos países;, mas ao ;aumento da prosperidade em grandes economias emergentes, mais especificamente na China e na Índia;.
Dividindo os assalariados em três grupos ; os com salários baixos, médios e altos ;, a OIT destaca que apenas os mais bem remunerados tiveram uma evolução de rendimentos de 2004 a 2017. Já as classes média e baixa sofreram queda nas remunerações. Em relação ao total do rendimento global, a renda do trabalhador de classe média teria caído de 44,8% para 43% no período, enquanto os rendimentos dos 20% mais ricos teriam aumentado 2,2%, saindo de 51,3% para 53,5%.
O economista Carlos Alberto Ramos, especialista em mercado de trabalho da Universidade de Brasília (UnB), reforça que, apesar dos dados evidenciarem um problema no mercado de trabalho, que reage ao ;dinamismo das inovações tecnológicas e ao crescimento econômico de cada país;, existe uma diferença clara entre a pobreza e a distribuição da renda, mesmo que os dois possam estar associados. ;A desigualdade de renda costuma aumentar quando há um crescimento nos salários, mas não quer dizer que a pobreza cresceu. Supondo que um engenheiro tenha seu salário aumentado em 20%, e uma pessoa menos qualificada tenha o mesmo aumento. Isso vai gerar um aumento na desigualdade, porque os salários maiores cresceram mais do que os menores, mas a qualidade de vida de quem era mais pobre também melhorou;, afirma.
Educação
Ele destaca que o nível de educação e de desenvolvimento tecnológico dos diferentes países são fatores determinantes para a desigualdade na distribuição da renda e, por isso, é normal que esse índice não tenha se alterado tanto nos últimos 13 anos. ;Os fatores ligados a desigualdade mudam muito lentamente. Você pode até ter mudanças no nível de pobreza, mas a distribuição de renda depende de fatores de educação, de dinamismo do mercado de trabalho, de inovações tecnológicas que substituem a mão de obra em diversos setores, então é difícil que ocorram mudanças a curto prazo. Mas nesse tempo, o combate à pobreza avançou bastante no mundo inteiro;, afirmou.
Wilson Amorim, professor de administração da USP, acrescenta que a intensificação da globalização é outro fator que influencia na desigualdade laboral. ;Com a globalização, podemos ter mais trabalhadores, mas não necessariamente com melhores rendimentos;, afirmou. Na opinião dele, os dados da OIT mostram que precisamos de um crescimento em escala global, não só nos países mais centrais. ;O levantamento mostra que temos prosperidade em dois grandes países, enquanto outros passam por grandes custos de mão de obra. Quando o mercado de trabalho se retrai e a mão de obra fica mais cara, os empregadores mantêm os trabalhadores de forma estratégica, só aqueles que ganham mais permanecem;, explicou.
* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira