Jornal Correio Braziliense

Economia

Medo do desemprego sobe e satisfação cai

Pesquisa da CNI mostra alta de 2,3 pontos percentuais no indicador que mede o temor de ficar desocupado e sem fonte de renda. Na contramão, cresce o descontentamento dos brasileiros com a vida, principalmente por conta da crise no mercado de trabalho


Enquanto o país caminha a passos curtos para recuperar a produtividade, o pavor pela falta de ocupação ronda a vida dos cerca de 13 milhões de brasileiros que estão fora do mercado de trabalho formal. Com a taxa de inatividade marcando 12,3%, o índice do medo do desemprego, calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), cresceu 2,3 pontos em relação a abril e atingiu 59,3 pontos no mês passado. Segundo economistas, o temor é reflexo do fraco desempenho da economia em 2019, que recuou 0,2% no primeiro trimestre do ano e corre o risco de entrar em recessão técnica caso apresente um novo resultado negativo entre abril e junho.

;Temos uma economia anêmica, praticamente estagnada. Com isso, quem sai para procurar emprego não encontra tão facilmente. Há uma certa frustração com o mercado de trabalho, que criou menos postos do que as pessoas estavam esperando. O que gera emprego de maneira sustentável é o investimento, mas não temos observado isso recentemente;, analisou o gerente executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.

De acordo com o levantamento da CNI, as mulheres são as que mais temem ficar desempregadas. Entre abril e junho, o marcador que mede o medo do público feminino subiu de 61,9 para 65,1 pontos. Assistente de cozinha, Eliane Mendes, 35 anos, não deixa a pesquisa mentir. Segundo ela, o maior temor em ser demitida é perder o sono por não ter como pagar as contas de casa.

Para se prevenir contra uma eventual perda do emprego, Eliane tenta economizar nos gastos. ;Nunca sei o dia de amanhã. Posso chegar no emprego, e ser demitida. Por isso, evito acender a luz durante o dia, lavo roupa uma vez na semana e, quando lavo, uso a mesma água para limpar a garagem de casa. Além disso, tento comprar só o essencial no mercado;, contou. ;Mas, se eu ficasse desempregada de um dia para o outro, trabalharia em casa de família ou faria panfletagem na rua. Sempre tem um jeito;, completou.

Insatisfação

A CNI também constatou mudança no índice que mede a satisfação do brasileiro com a vida. O indicador caiu 0,5 ponto na comparação com abril e ficou em 67,4 pontos em junho, abaixo da média histórica de 69,6 pontos. O resultado do marcador, de acordo com o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Alexandre Andrada, está ligado à dificuldade em se conseguir emprego.

;O desemprego é um drama social, familiar e psicológico. Ele é grave para a autoestima das pessoas, pois deteriora as perspectivas que elas têm para o futuro. A família que antes tinha quatro pessoas com carteira assinada, por exemplo, agora só tem uma. Assim, muita gente tem de se submeter a empregos mais precários, o que provoca uma queda na qualidade de vida e provoca endividamento;, destacou.

Nos dois anos que ficou desempregado, Gustavo Silva, 35, sentiu o drama na pele. ;Fiz vários bicos na rua para me manter. Vendia balinha, trabalhava como ajudante de pedreiro, pintor, limpava lote, fazia de tudo, mas ainda faltava muita coisa para mim.Estava sem esperanças;, lembrou. Há um mês, ele conseguiu um emprego como auxiliar de serviços gerais. ;Hoje, me orgulho muito do que faço. Só espero não voltar a viver daquele jeito;, destacou.

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira