Jornal Correio Braziliense

Economia

''BC merece a independência de presente'', afirma Gustavo Loyola

Ex-chefe da instituição financeira, Loyola participou de evento no Correio sobre os 25 anos do Plano Real

Presidente do Banco Central em duas ocasiões, antes (11/1992-02/1993) e depois do Plano Real (6/1995-8/1997), o economista Gustavo Loyola disse que ;o Real foi uma belíssima obra que mostra que o Brasil tem jeito;. Ao encerrar o Seminário 25 Anos do Plano Real, os desafios para o Brasil no auditório do Correio, ele disse que o Banco Central, onde também atuou como diretor de Normas do Mercado Financeiro e chefe do Departamento de Normas do Mercado de Capitais, merece um presente de aniversário de 25 anos, que a moeda completa hoje: a independência.

Segundo Loyola, a independência do BC é importante para que a instituição possa cumprir seu papel sem interferências governamentais. ;O Banco fica protegido, pois com pressões políticas, o BC pode acabar não fazendo o seu trabalho, que é manter a inflação baixa e estável. Por exemplo, pode não agradar a alguns políticos que o Banco aumente as taxas de juros, porque isso gera impopularidade, ou pode ser levado a estimular a economia em um ano eleitoral;, explicou ao Correio. Com a independência, os dirigentes do Banco Central passariam a ter mandatos fixos com estabilidade, a exemplo das agências reguladoras.

Em sua fala, ele disse que o BC cresceu muito. ;Não há nenhuma instituição brasileira que teve maior estabilidade do que BC, o que mostra a importância de uma burocracia estável que trabalha para o bem comum. BC foi uma grande âncora institucional para o período real e do pós-real;, disse. Na sua avaliação, a supervisão bancária, o compromisso com a estabilidade financeira e a continuidade dos dirigentes com o compromisso do aperfeiçoamento da agenda de supervisão e de regulação bancária provam maturidade do Banco Central.

Processo - Para ele, o Plano Real é um processo de modernização e liberalização e de reformas em curso, mas com medidas liberalizantes que começaram antes do Plano, como as privatizações do governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello e a abertura econômica empreendida antes do Plano Real, mas foram aceleradas durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. ;O processo foi acelerado graças ao alinhamento de astros que tivemos no período do presidente de Fernando Henrique Cardoso;, disse. ;Os próprios planos anteriores fracassados foram experiências valiosas para o Plano Real. Foram lições aprendidas;.

;Sendo um processo, o Plano Real, não acabou. Continuamos com uma agenda inacabada. Isso não é um juízo negativo, mas a constatação de que é processo e dificilmente poderia se esgotar durante o governo FHC. Houve percalços, mas as realizações foram se acumulando e o Plano deixou um legado importante, principalmente a estabilidade da moeda. Um país não é soberano se não tem sua própria moeda;, resumiu.

Na avaliação do economista, antes do real o Brasil não tinha uma moeda, mas algo parecido. ;Nós criamos a moeda e esse legado só funciona porque a sociedade brasileira percebeu a importância de ter uma moeda estável e não é algo apenas no imaginário. Não existe Banco Central independente se não estiver ancorado no desejo da sociedade por uma moeda. A sociedade entrega ao Banco Central a tarefa de cuidar de sua moeda. Quando o Brasil não tinha uma moeda forte, o BC era uma instituição fraca;, comparou.

Percalços - Segundo Loyola, até 2008, de foram geral, segundo avalia, houve continuidade das políticas de responsabilidade fiscal e macroeconômicas, propiciadas pelo fim da inflação. ;No início do governo Lula, até 2008, houve alguns pequenos retrocessos na gestão macroeconômica, mas tudo mudou com a crise financeira. Embora a resposta à crise financeira tenha sido, no geral, correta, o governo gostou de gastar mais e criou-se um ambiente intelectual no mundo de que precisava ter medidas de estímulo, mas, de maneira muito conveniente, se deixou de lado a ideia de que esses estímulos têm que ser usados na hora certa e na dose certa;, avaliou.

Ele avalia que os estímulos foram injetados pelo governo, mesmo economia crescendo. ;Até chegar ao chegar ao desastre da política econômica da ex-presidente Dilma Rousseff. Vamos lembrar o que foi feito no segmento de óleo e gás com a política protecionista e de incentivos excessivos do Estado, além da corrupção que se descobriu depois;, afirmou. Para ele, houve um resgate de medidas liberais durante o governo do ex-presidente Michel Temer, como o teto de gastos e o modo de operação dos bancos públicos, por exemplo.

;Hoje temos no ministério da Economia um liberal para reformas (ministro Paulo Guedes), mas isso não significa que o governo vai ter sucesso na implementação das reformas, mas temos uma grande oportunidade. A reforma da Previdência tem muito apoio no Congresso. O mesmo com a tributária. Estamos em um momento bom, até porque, o sistema atual tributário, como o previdenciário, faliu. Há também espaço para reforma para mudanças no marco regulatório do saneamento, privatizações, concessões;, disse.

"Boa e velha política"
Embora otimista com relação à aprovação das reformas, ele afirma que elas só poderão ser executadas ;com a boa e velha política;. Ele defende que o Plano Real é um exemplo de boa discussão no Congresso. ; O Plano real teria sido impossível se não tivesse apoio do Congresso. O Real foi um trabalho de muita gente. Tivemos a espetacular capacidade intelectual e política do presidente e Fernando Henrique e do presidente Itamar que entendeu a necessidade das medidas e apoiou;.

O ex-presidente do BC prevê, para o fim do ano, uma taxa de inflação acumulada em torno de 3,5%. Em relação ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), ele acredita que não passará de 1,5%. Na opinião de Loyola, a falta de confiança dos empresários e investidores no país impedem uma taxa de crescimento maior. ;Durante muito tempo, tivemos investimentos que não foram bem feitos e que geraram um retorno muito baixo. São investimentos em que se gastou muito dinheiro e não se conseguiu gerar a produção equivalente. Também temos um setor público com muitas dificuldades reduzindo seus gastos, por não conseguir se equilibrar. É preciso retomar a confiança. Só assim podemos ter um crescimento mais próximo do que foi o Plano Real;, concluiu.

*Estagiária sob supervisão de Cláudia Dianni