O economista-chefe do banco UBS, Tony Volpon, define o momento atual vivido pelo Brasil como uma ;travessia no deserto;. O país saiu de um lugar difícil, com hiperinflação e forte dependência do Estado, mas não chegou onde ;tem que chegar;. O país, segundo ele, ainda não caminhou o suficiente para superar o padrão de crescimento ;medíocre;, que não costuma passar de 2% ao ano. Volpon participa do Correio Debate: 25 anos do real, na sede do Correio, nesta segunda-feira (1/7).
[SAIBAMAIS]Para o economista, ;não há atalho;: o caminho é continuar o processo de reformas estruturantes, com foco em melhorar as condições de produtividade e concorrência. Qualquer outra alternativa é ;ilusão;, disse. ;Não acho que a gente vá crescer de maneira acelerada nos próximos anos. Mas a gente tem que completar agenda de reformas;, reforçou.
Volpon não nega que houve avanços desde 1994, com algumas privatizações, progressos na questão fiscal e ;uma certa abertura da economia;, mas explica que as medidas adotadas desde a implementação do real não foram suficientes para alavancar a economia brasileira. Ao fim do dia, as políticas ;não conseguiram nos levar até uma taxa de crescimento média acima de 2%;, lamenta. "Ainda temos uma economia com ambiente de negócios hostil, carga tributária alta e distorcida e não somos uma economia aberta."
Para resolver o problema, é preciso acabar com o ;vício; em políticas de ;suporte; adotadas pelo Estado nos últimos anos, que criaram uma ;condição muito perigosa;, afirmou. ;O que ocorreu nos últimos anos para levar a taxa de crescimento, que já é decepcionantemente baixa, a cair? Houve muito direcionamento e alocação de capital do Estado, em um processo que a economia privada ficou meio viciada no crédito, no subsídio e no corte de impostos;, comentou.
"A única coisa que vai retirar essa condição é uma série de reformas que vai gerar mais concorrência nesses setores, e novos entrantes. Sejam estrangeiros, seja nacional, tanto faz. Pessoas têm que entrar e tornar esses setores mais competitivos de uma vez", defendeu Volpon. Para ele, a entrada no setor privado é o "está demorando". "A gente tirou o Estado da economia, mas (essa entrada) vai demorar, porque precisa fazer as reformas", apontou.
Azar e má escolha
Reverter o quadro é importante para que o país não desperdice outras oportunidades de crescimento, como aconteceu a partir da década de 1980. Desde então, duas janelas foram perdidas: a da urbanização e a da industrialização. Para Volpon, uma combinação de ;azar e má escolha; interrompeu o processo de crescimento, quando veio a crise da dívida, na década de 1980.
Diferentemente de países como que tiveram processos parecidos, como a Coreia do Sul, o Brasil ainda não havia chegado ao status de país de renda média antes da interrupção. No início dos anos 1980, a taxa de juros dos Estados Unidos chegou a quase 20%, o que influenciou no financiamento dos países emergentes e resultou na crise da dívida.
No caso do Brasil, tem ainda o problema da industrialização, que não era voltada para exportações, mas para substituição de importação. ;No primeiro momento, foi, talvez, a coisa necessária. Mas sempre tem aquele momento de abrir a indústria ao mundo e forçar a competir;, comentou Volpon. ;Aí, o mercado da sua indústria é o mundo inteiro, não só a sua economia. E o ganho de produtividade gera uma indústria grande, potente, que exporta e pode ser o cavalo chefe do crescimento econômico;, explicou.
;Não fizemos isso, em função de uma ideologia que tivemos, à época, de fechar a indústria e a concorrência. A gente perdeu uma chance histórica de ter o crescimento acelerado pela urbanização e pela industrialização. Agora, não serão esses os caminhos. Essas janelas históricas, por equívoco e azar, foram perdidas;, lamentou o economista.
Volpon também ressaltou a questão demográfica como um dos desafios atuais para o crescimento da economia. ;Não é por acaso que a gente tem que fazer a reforma da Previdência;, explicou. Com a taxa de natalidade começou a cair fortemente nos anos 1970, a população tende a envelhecer bastante. "Olha experiência de outros países que estão entrando no mesmo tipo de situação. O que você vê é queda do crescimento econômico, aquilo que é debatido como estagnação secular;, afirmou.