[SAIBAMAIS] Para o economista, o plano deu certo, porque adotou uma forma inteligente de coordenar preços e lidar com a inércia inflacionária. ;O grande mérito da URV (unidade real de valor, moeda transitória antes do real) foi moderar os preços. A passagem para o real foi suave;, opinou. Outra medida foi uma política monetária extremamente restritiva. ;Tinha que ser. Foi necessária;, comentou.
Gonçalez criticou os comentários do atual ministro da Economia, Paulo Guedes, que teria dito que o Plano Real foi responsável pela concentração de renda. ;É uma contabilidade desleal, porque o plano teve um aspecto redistributivo de renda, pela redução da inflação. Porque as pessoas de baixa renda não têm como se defender da inflação e veem seu salário derreter ao longo do mês;, explicou.
Doutor em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), Gonçalez assinalou que a apreciação cambial foi feita alguns anos depois do plano. ;O câmbio era indexado e o dólar sumiu de contratos privados e jogou os preços para média e não para o pico. Houve redução da dívida;, disse. Outro destaque elogiado pelo economista foi a adoção, em 1999, do tripé macroeconômico: ajuste fiscal, câmbio flutuantes e metas de inflação.
Crise
Apesar de pontuar os aspectos positivos do Plano Real, Gonçalez afirmou que a economia do país não está nada bem. ;A taxa de crescimento potencial brasileira tem sido decepcionante. Minha estimativa é de que está em 0,6%. Há um grau de ociosidade enorme;, justificou. ;Com isso, vamos ter queda de renda per capita, que já foi expressiva de 2014 a 2017;, alertou.
Gonçalez também destacou que a produtividade total do país mergulhou a partir de 2013 e agora está negativa. ;A média dos últimos três anos, computado 2019, é de -35%. Isso rouba crescimento que decorreria das horas trabalhadas e dos investimentos na ampliação da produção;, disse.
A atual crise foi creditada, pelo especialista, a investimentos equivocados nos governos petistas, ao sistema tributário ineficiente, à infraestrutura precária, à presença excessiva do Estado na economia, ao baixo nível de qualificação da força de trabalho e, sobretudo, ao fato de o Brasil ser um país muito fechado. ;Uma boa notícia é o acordo com a União Europeia, mas não se pode esperar velocidade;, pontuou.
Para o economista, a agenda de reformas estruturais é extensa e sofre grande resistência política. ;Além disso, o PIB (Produto Interno Bruto) efetivo comparado com o que se poderia ter em situações normais tem um hiato de 6%, ou seja, está 6% abaixo do que poderia ser;, afirmou. Melhorar o ambiente do país poderia passar por medidas de estímulo de curto prazo, segundo Gonçalez. ;A começar pela queda na Selic;, sugeriu.
Ele lembrou que a taxa de desemprego está muito alta, em 12%. ;Temos um contingente de pessoas que estão sempre procurando emprego porque não têm qualificação. Essas vão ser eternamente desempregadas. Mas também tem caído o número médio de horas trabalhada, que está 4% abaixo do que deveria estar;, ressaltou.