Braz de Oliveira França, da etnia Baré, é liderança indígena em São Gabriel da Cachoeira
;Aqui na região, as mudanças começaram muito antes do Plano Real, com a colonização, sempre vitimando as propriedades indígenas. O que ocorre de 1990 para cá é uma consequência da primeira invasão. A relação dos brancos com os indígenas mudaram, mas o massacre continua, só que de forma diferente. Na lei, na burocracia, na caneta. Em 1994, veio o Plano Real. Mas foi apenas uma questão monetária. Para as comunidades indígenas, que não tinham renda, não ocorreram tantas mudanças.
Houve facilidade de acesso ao produto industrializado, que se popularizou. Mas a produção do índio, artesanal, se manteve. Vendida a preço baixo e revendida a preços muito altos. Em São Gabriel da Cachoeira, economicamente, a situação está estagnada. O que uma família produz, ela vende no comércio. Isso dá um fluxo para a receita familiar. Socialmente, lutamos por uma assistência na saúde. Tínhamos conseguido, mas, a partir de 2010, ficou impraticável por não se tratar de política de Estado, mas de partido. A educação, também.
Politicamente, há um distanciamento da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) com as bases. Vários políticos, prefeitos e vereadores saíram da associação. Mas quando chegam lá, se transformam. Esquecem-se daqui. Assim, queimamos nossas lideranças na relação com as bases. Mas não podemos ser taxativos. O indígena também pode ser doutor, comerciante. Pode usar sua inteligência para progredir. Isso está ligado ao capitalismo. Se ele se forma, vai caçar emprego. Mas ele se isola da comunidade e para de defender o interesse coletivo. Agora, é o interesse de classe. Ele pertencerá à comunidade, mas não será mais liderança.;