São Paulo ; Poucas áreas de negócios têm enfrentando tantas dificuldades no Brasil quanto o segmento de TVs por assinatura. Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país registrou em maio 16,8 milhões de domicílios com acesso a esse tipo de serviço, o que representa uma queda de 1,4 milhão (-6,7%) de assinantes em relação há um ano.
Para se ter ideia do que isso significa, o número é apenas um pouco inferior à população inteira de uma cidade como Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, e está muito abaixo do ápice do setor registrado em 2014, quando havia 20 milhões de assinantes de TVs por assinatura no Brasil.
O levantamento mensal da Anatel revelou que, no mês passado, 245.593 assinantes cancelaram seus contratos. Segundo a série histórica da agência, é a maior queda desde dezembro de 2014, quando 273.398 clientes abandonaram as operadoras. Nos últimos 12 meses, em um único mês (junho de 2018) foi registrado um aumento do número de clientes. No restante do ano, foram 10 meses de quedas consecutivas.
Maior empresa do segmento, a Claro teve o pior resultado no período (queda de 7,46% do total de assinantes). Entre as grandes companhias do setor, apenas a Oi apresentou avanço no fornecimento de TV por assinatura, com alta de 3,93%.
Considerando o número de assinantes por estados, o Ceará foi o que mais cancelou contratos: 77.680 em maio. Líder no número de clientes, São Paulo teve uma queda bem menor: 26.654 deixaram de assinar o serviço no mês passado. Segundo colocado no ranking de assinantes, o Rio de Janeiro contabilizou 6.070 cancelamentos. Em Minas Gerais, terceiro colocado, 12.968 contratos foram encerrados.
O mesmo levantamento da Anatel mostrou que metade dos lares brasileiros que assinam esse tipo de serviço ; 49,26%, num total de 8,29 milhões ; recebem o sinal do Grupo Claro. As outras grandes empresas do setor são a Sky, com 5,05 milhões (29,99%), Oi, com 1,59 milhão (9,45%), e Vivo com 1,48 milhão (8,82%) de domicílios cobertos.
A queda do número de assinaturas é reflexo principalmente de uma mudança de hábitos da sociedade. ;Ninguém mais quer ficar dependente de uma grade de programação;, diz Eduardo Tancinsky, consultor especializado em tecnologia. ;Isso é coisa do passado. Seja no trabalho, seja no lazer, cada vez mais as pessoas são responsáveis pela administração de seu próprio tempo, fenômeno que me parece irreversível. Ou as empresas mudam, ou vão perder ainda mais assinantes.;
As TVs por assinatura vêm sofrendo com a concorrência de um rival voraz: o streaming. Estimativas feitas pela empresa americana de medição de tráfego na internet Comscore indicam que a Netflix, que não divulga números oficiais, tem 12,5 milhões de assinantes no Brasil. Ou seja, o número se aproxima do total de clientes de todo o mercado de TVs por assinatura no país (16,8 milhões). ;Diante de todos os serviços de streaming em operação no mercado brasileiro, é certo que esse tipo de produto já é mais abrangente do que as TVs por assinatura;, afirma o consultor Eduardo Tancinsky.
O que já era difícil tende a ficar ainda mais complicado para as empresas que atuam no setor. Há alguns dias, o presidente do conselho da Warner Media, Robert Greenblatt, anunciou que a empresa vai lançar seu próprio serviço de streaming no primeiro trimestre de 2020. Além de oferecer filmes e séries no seu catálogo, a companhia deve contar com conteúdos produzidos pela CNN.
O mercado atualmente é dominado por gigantes como Netflix e Amazon, mas a concorrência ficará em breve mais acirrada. Além da Warner, Disney e Apple já anunciaram a entrada no segmento, prevista para os próximos meses. Para as TVs por assinatura, o futuro não poderia ser mais desafiador.