A marca brasileira deixa de existir, apesar de seus 5 milhões de usuários por mês só no Brasil, além da base de clientes nas suas duas operações na América Latina, no México e na Argentina. Não há planos para que a Love Mondays volte como um braço de negócio da Glassdoor, segundo Luciana Caletti, vice-presidente da empresa para a América Latina e, ao lado de Dave Curran e Shane O;Grady, uma das fundadoras da startup brasileira, no mercado desde 2014.
Toda a equipe da ex-Love Mondays, segundo Luciana, continuará na nova empresa, que passa agora, sob a gestão do novo controlador, a oferecer outros serviços. Até agora, a HR tech tinha como principal produto sua plataforma de avaliação das empresas por seus funcionários. Mas passará a reforçar algumas áreas. Uma delas é a de oferta de vagas.
;O acesso à plataforma para o funcionário continua sendo gratuito, com avaliações de ambiente de trabalho, postagens sobre salários, benefícios e processo seletivo. Além disso, continuaremos a oferecer, de forma gratuita, a busca por vagas, mas com filtros muito mais interessantes para o usuário;, diz a vice-presidente.
Com as novas ferramentas, o usuário poderá, por exemplo, procurar informações sobre uma vaga ou uma empresa levando em consideração a distância que terá de percorrer até o trabalho. ;Procuramos oferecer a possibilidade de consulta a partir de informações relevantes para a vida de quem busca um emprego, agregando conteúdo para que seja tomada uma decisão de carreira muito segura, com informação;, detalha Luciana.
A oferta de vagas na plataforma deverá ser ampliada, mas a expectativa é de que a classificação feita pelos funcionários sobre as empresas onde trabalham ou por onde passaram pelo processo de seleção continue a ser uma das áreas com mais apelo. Nessa área do site da HR tech, quem navega pode encontrar a avaliação do ambiente de trabalho, salários e benefícios.
Informações
Uma das novidades com a mudança de Love Mondays para Glassdoor é que as empresas e os funcionários poderão acrescentar ao conteúdo fotos do ambiente de trabalho, desde que a postagem tenha o consentimento do empregador (para evitar o vazamento de informações empresariais, por exemplo) e respeite as regras de confidencialidade. Mas, ainda assim, a Glassdoor continuará a fazer a moderação do conteúdo, para evitar imprecisões.
Apesar da quantidade de informações para funcionários e candidatos a uma vaga, não é daí que vem a fonte de receita de negócios como a Glassdoor, mas, sim, dos dados obtidos a partir de muito investimento em tecnologia para traduzir esses dados em padrões e apontar para as empresas caminhos na área de recursos humanos. ;Transformar esses dados fornecidos pelos funcionários em informações é o caminho para que as empresas reforcem sua marca como empregadora e, assim, melhorem a atração de talentos;, explica a executiva.
Esse tipo de preocupação, segundo Luciana, ainda é algo novo para as empresas, que começou a ganhar força nos últimos dois anos. Mas ainda há muitas corporações que se dedicam exclusivamente à valorização da marca de seus produtos, em vez de pensar também na sua marca como empregadora.
Isso é importante, na avaliação da vice-presidente, porque permite que a empresa conheça melhor como sua cultura e seus valores têm sido percebidos pelo mercado de trabalho. Essas informações funcionam também no processo seletivo, porque facilitarão a atração de profissionais que se identificam com o propósito daquela companhia.
Atualmente, com a ajuda de ferramentas tecnológicas, com recursos como a inteligência artificial (AI, na sigla em inglês), um empregador consegue, a partir dos dados coletados pela Glassdoor, como a opinião dos funcionários no site e o comportamento de navegação pela plataforma, saber qual é a avaliação sobre sua imagem e a dos concorrentes. Isso permite a definição de estratégias para se posicionar melhor como alternativa no mercado de trabalho e atrair profissionais mais qualificados e mais aderentes às propostas da companhia.
;É possível fazer um paralelo com o algoritmo que mostra, enquanto você navega em um site de compras, outros produtos levados pelas pessoas que compraram aquele mesmo item que está na sua busca. Acompanhamos o comportamento no site, o transformamos em dados, o que garante que sejam anônimos, que são posteriormente agregados e transformados, por exemplo, no perfil do interessado em uma vaga em uma determinada empresa;, detalha Luciana.
Vagas de emprego
Com a migração definitiva da plataforma da Love Mondays para a Glassdoor, a tendência é de que novos recursos passem a ser oferecidos em uma velocidade menor. Além da operação em São Paulo, a Glassdoor, fundada em 2008 em Mill Valley, na Califórnia, tem negócios em outras 18 cidades, que permitem contar com cerca de 49 mil avaliações de funcionários sobre 900 mil empresas, aproximadamente, espalhadas por 190 países.
No início deste ano, por exemplo, passou a operar em Cingapura, Hong Kong e Nova Zelândia, além de ter aberto escritórios em Paris e Hamburgo. Hoje, sua plataforma recebe em torno de 67 milhões de usuários únicos a cada mês. A principal demanda é a pesquisa e a candidatura a vagas de emprego. Com quase 900 funcionários, distribuídos por nove escritórios, incluindo o de São Paulo, a Glassdoor tem 18 sites localizados e aplicativos móveis.
Por enquanto, segundo Luciana, os usuários de Brasil, Argentina e México representam por volta de 10% do número total da Glassdoor, mas a executiva acredita no potencial de expansão na América Latina. No entanto, nenhum detalhe pode ser antecipado agora sobre a estratégia para a região.
Apesar de o mercado de trabalho brasileiro passar por uma grave crise, com cerca de 13 milhões de desempregados, a vice-presidente acredita que ferramentas tecnológicas na área de RH serão cada vez mais valorizadas. Isso, na sua análise, já vem ocorrendo, porque as empresas, principalmente as da área de tecnologia, vêm enfrentando dificuldades para encontrar profissionais qualificados. A executiva cita o exemplo dos profissionais especializados em AI, que não conseguem preencher a quantidade de vagas oferecidas.
;Mas, seja para atrair um profissional tão escasso ou o melhor perfil para a área de vendas, é preciso tentar encontrar o perfil mais adequado à companhia. O candidato está cada vez mais bem informado. Para ele, não basta mais ir a um site genérico à procura de vagas. Ele quer o pacote completo, quer saber sobre a cultura daquele local, qual é a avaliação feita pelos funcionários, os benefícios e os salários. Do lado das empresas, não adianta mais simplesmente anunciar uma vaga e receber um monte de currículos. Elas querem atrair o perfil certo;, diz Luciana.
Setor ainda é pouco explorado
A aceleradora Liga Ventures, depois de analisar 8.434 startups brasileiras, identificou que 122 delas se dedicam a soluções na área de recursos humanos, por meio de serviços inovadores que utilizam a ajuda da tecnologia.
Essas HR techs atuam em segmentos como recrutamento, avaliação de performance e gestão de processos ou benefícios e seus clientes, na maioria dos casos, são as grandes empresas.
A maioria (67%) tem pouco tempo de mercado e foi fundada a partir de 2015. O levantamento foi divulgado em abril do ano passado e, segundo os coordenadores do estudo, ainda há muitas oportunidades nessa área, em particular por conta das mudanças na legislação trabalhista, que permitiram mais agilidade no processo de contratação.
Segmentos
Ainda segundo a aceleradora, a atuação das HR techs está pulverizada em 11 segmentos. As áreas de recrutamento ou seleção e e-learning, cursos ou treinamento (ambas com 21 startups) contam com o maior número de negócios. Gestão eletrônica de ponto, operações, folha ou documentos concentram 15 empreendimentos.
Ainda segundo a Liga Ventures, 11 startups atuam na área de análise de performance de funcionários, nove são plataformas de vagas, oito se posicionam como ferramentas de engajamento e sete se dedicam a análise de perfis. Há, ainda, HR techs nas categorias gestão de benefícios, plataformas de freelancers ou suporte para entrevistas (seis) e em saúde ocupacional de colaboradores (12).