São Paulo ; Enquanto Carlos Ghosn aguarda seu julgamento na cela de uma prisão de Tóquio, a Nissan tenta seguir em frente depois de um dos maiores escândalos da história global das montadoras. Ontem, os acionistas da marca japonesa aprovaram um novo organograma. O objetivo é melhorar os controles internos após a prisão de Ghosn, seu ex-CEO, em dezembro do ano passado, sob acusação de desvio de recursos para fins pessoais. Também pesa no momento a tensão com a Renault, sua sócia francesa. Em assembleia geral ordinária, Hiroto Saikawa foi confirmado como presidente-executivo da Nissan.
Os acionistas aprovaram ainda a nova composição do Conselho de Administração, que a partir de agora contará com 11 integrantes ; sete deles são gestores externos. O novo modelo foi colocado em prática para a adoção do novo sistema, que ocorre depois de o escândalo envolvendo Ghosn ter debilitado a aliança Renault-Nissan, desenhada pelo ex-executivo, nascido no Brasil, criado no Líbano e com cidadania francesa.
A Renault detém 43% da Nissan. Já o grupo japonês é dono de apenas 15% da montadora francesa, sem ter direito a voto. A assembleia da montadora asiática foi acompanhada pelo presidente da Renault, Jean-Dominique Senard, que garantiu tentar minimizar as tensões na aliança desde que assumiu o posto.
Apesar da declaração de Senard, do lado da Nissan o discurso vai em outra direção. Saikawa falou aos acionistas sobre seu desejo de preservar o espírito de igualdade na relação com o parceiro francês. ;Queremos uma relação ganha-ganha com a Renault. A aliança tem sido bem-sucedida até agora porque respeitamos a independência um do outro;, disse Saikawa.
Essa foi uma das afirmações feitas durante quase três horas de uma assembleia interrompida por alguns protestos, com parte dos acionistas cobrando do presidente-executivo da Nissan e do conselho da montadora esse equilíbrio de forças. Ao mesmo tempo, Saikawa terá de recuperar a confiança na relação com a Renault, que se depaupera à medida que a companhia europeia tenta avançar ainda mais em controle na Nissan.
Apesar da missão de estreitar os laços com a montadora francesa, o presidente-executivo da Nissan foi duro nas palavras durante a reunião com os acionistas. ;Se necessário, vamos colocar nossa estrutura de capital na mesa. Se o relacionamento se tornar um ganha-perde, se romperá muito rapidamente.;
Mercado brasileiro
Por aqui, a Nissan começou o ano com queda nas vendas, como mostram os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). No acumulado de janeiro a maio (dado mais recente), a montadora chinesa licenciou 33.251 veículos leves, contra 36.505 nos primeiros cinco meses de 2018; retração de 8,9% no comparativo.
A Renault, por sua vez, apresentou crescimento bem relevante no mesmo período. O total de veículos leves licenciados até maio foi de 83.015, ante 65.082 nos primeiros cinco meses do ano passado, o que resultou em aumento de 27,6%. O crescimento médio do mercado brasileiro nesse intervalo foi menos da metade do que conseguiu a montadora francesa, 11,3%.