Os juros devem voltar a cair até o fim deste ano. Por conta da enorme fraqueza da economia brasileira, analistas do mercado financeiro mudaram as projeções e, agora, acreditam que o Banco Central (BC) promoverá um corte de 0,75 ponto percentual ao longo do segundo semestre na taxa básica, a Selic, que recuaria dos atuais 6,5% para 5,75% ao ano. Para os especialistas ouvidos pelo Boletim Focus, do BC, o Produto Interno Bruto (PIB) do país crescerá menos de 1% em 2019, ou seja, terá evolução pior que nos últimos dois anos.
A Selic está no menor patamar da história desde março de 2018, mas o nível baixo não tem sido suficiente para estimular a atividade econômica. Tanto é que os economistas não descartam a possibilidade de o país voltar a um quadro de uma recessão técnica ; quando o índice do PIB fica no vermelho por dois trimestres consecutivos ; ainda no primeiro semestre.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizou retração de 0,2% no primeiro trimestre. Analistas de mercado não descartam uma nova queda na atividade econômica entre abril e junho. Apesar do cenário preocupante, o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reunirá hoje e amanhã para definir a Selic que vai vigorar pelos próximos 45 dias, não deve anunciar ainda o corte de juros. Até agora, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem sinalizado ao mercado que a Selic deverá se manter estável.
Ruídos
A visão predominante entre economistas é de que Campos Neto deve adotar uma postura conservadora e não criar ruídos de comunicação. Mas há consenso de que o anúncio que será feito nesta quarta terá a indicação de que haverá um primeiro corte na Selic na reunião seguinte, que ocorrerá no fim de julho. Com tantos resultados negativos nas atividades industriais, de comércio e serviços, além do desemprego elevado, analistas não veem motivos para segurar os juros em 6,5% ao ano.
As estimativas de mercado apontam que o PIB terá crescimento de apenas 0,93% em 2019. Há risco, porém, de uma expansão ainda menor se concretizar, e o país ficar próximo da estagnação. Devido à falta de demanda, a inflação deve se manter abaixo da meta fixada para este ano, de 4,25%, cravando variação de 3,84% de janeiro a dezembro. Os preços em nível controlado também abrem espaço para a redução da Selic. Além disso, tudo indica que a taxa de juros nos Estados Unidos cairá nesta semana, diminuindo o incentivo para a fuga de capitais do Brasil.
Nesse cenário, analistas defendem que é preciso um afrouxamento monetário até o fim do ano, mesmo que o efeito seja limitado. ;O país não está conseguindo crescer. O PIB potencial está muito mais baixo do que era esperado, e acho que o teto para este ano é uma expansão econômica de 0,7%. Eu avalio que será difícil avançarmos até mesmo 0,5%. Por isso, o BC precisa diminuir a Selic para 5,57% até o fim do ano;, defendeu o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira.
Alívio
Divulgado todas às segundas-feiras, o Boletim Focus mostra que as estimativas do mercado para os juros se mantinham no nível de 6,5% ao ano há 18 semanas. Mas, na última edição, as projeções tombaram 0,75 ponto percentual. Patricia Pereira, da Mongeral Aegon Investimentos, explicou que a análise geral do mercado mudou drasticamente.
Para a economista, os últimos dados de inflação mostraram que a taxa está em nível apropriado e confortável para o corte dos juros. ;Há um alívio no índice de preços mais rápido e mais intenso do que o esperado. Há 16 semanas, as projeções do PIB vêm caindo. Então, as estimativas de que a atividade econômica e a inflação estão cada vez mais fracas reforçam a necessidade de corte de 0,75 ponto percentual nos juros até o fim do ano;, destacou Patrícia.
A fraqueza na economia também começa a se refletir nas perspectivas dos analistas para 2020. O mercado reduziu a previsão para o PIB e a Selic do próximo ano, com recuos de 2,23% para 2,20% e de 7% para 6,5% ao ano, respectivamente.