A saída de Joaquim Levy da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não deve ter impacto sobre a reforma da Previdência, na opinião de Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria Integrada. No entanto, mesmo com eventual aprovação da reforma previdenciária, dificilmente haverá retomada considerável da confiança. Isso porque, avalia, esse tipo de acontecimento tende a atrapalhar a perspectiva de avanço de uma agenda liberal mais ampla de longo prazo.
"O efeito da saída é menos importante na agenda da reforma da Previdência e muito mais nos sinais da política econômica como um todo. O destino da reforma está mais associado dependente ao Legislativo e menos em relação ao papel do presidente da República", diz, acrescentando que pesa muito mais sobre o desenrolar da reforma as críticas feitas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, após a apresentação da proposta na Câmara na semana passada.
No entanto, pondera que cada vez que há uma crise deste tipo, reforça a ideia de que dificilmente o governo conseguirá ter um desempenho minimamente estável em relação à sua popularidade. "Fica ainda mais ambiciosa a capacidade do governo em recuperar capital político e de melhorar sua imagem", diz.
Como não se trata da primeira baixa no governo, a avaliação de Cortez é de que uma agenda mais liberal no longo prazo pode ficar comprometida. Conforme ele, os sinais de aprovação da reforma previdenciária seguem firmes, bem como o prazo de quando isso poderá ocorrer e, além disso, trata-se de um projeto cujo texto é bom. Porém, mesmo com aprovação, ressalta, o crescimento econômico do País será fraco. "Vai gerar um crescimento em 2019 típico de cenário pessimista, sem reforma", observa.
Enquanto na pesquisa Focus do Banco Central, ainda está em 1,00%, já há instituições que estimam expansão econômica na faixa de 0,5% este ano, com o País enfrentando recessão técnica, já que há projeções de recuo do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre. No primeiro trimestre, o PIB já f47ora negativo, em 0,2%. Em 2018, o crescimento econômico fora de 1,1%.
Carta
Por carta hoje pela manhã, o presidente do BNDES, Joaquim Levy, entregou hoje seu pedido de desligamento do cargo ao ministro da Economia, Paulo Guedes. A saída ocorre após Levy ter recebido críticas do presidente Jair Bolsonaro ontem (15), em função da nomeação do advogado Marcos Barbosa Pinto para o cargo de diretor de Mercado de Capitais do BNDES.