Jornal Correio Braziliense

Economia

'O usuário tem de ter poder de escolha', diz executivo do Google

Nuvens cinzas, que há tempos pairavam no ar, se aproximaram essa semana das gigantes de tecnologia: nos EUA, o Congresso iniciou uma investigação formal para entender se Apple, Amazon, Facebook e Google abusam de seu poder no mercado. Especula-se ainda que o Poder Executivo americano possa abrir inquéritos contra as empresas. Kent Walker, vice-presidente sênior de assuntos globais do Google, parece preparado para uma eventual tempestade. "Discutimos regulações no mundo todo e nosso foco tem sido sempre no valor que nossos produtos trazem aos usuários", disse ele ao jornal O Estado de S. Paulo, durante evento realizado pela gigante de buscas em São Paulo nesta semana. Para o executivo, serviços como Gmail e YouTube ajudam a vida dos consumidores. Por isso, afirma, a empresa não deve ser afetada pelas leis de competição. É o primeiro pronunciamento do Google sobre o caso. À reportagem, Walker ressaltou a necessidade de uma discussão diferente sobre o uso de dados, centrada na utilização responsável das informações. "Os usuários têm de ter poder de escolha sobre o que compartilham com as empresas." O Congresso dos EUA iniciou um inquérito sobre competição que envolve o Google. O Poder Executivo dos EUA deve segui-lo. Como o Google vê o tema? Discutimos regulações ao redor do mundo. Nosso foco nas conversas gira em torno do valor que nossos produtos trazem aos usuários. A busca, o Gmail, o YouTube - todos eles têm tremendo valor para os consumidores. Acredito que é dessa forma que as leis de competição veem o mundo hoje. As leis de competição já compreendem bem o mundo digital? Creio que a noção de focar no valor que uma empresa traz para o consumidor, seja em preços, inovação ou opções de uso, é um importante princípio a ser mantido. É uma estrutura que funciona há décadas. Não podemos (só por se tratar do mundo digital) jogar o bebê fora junto com a água do banho. Os benefícios fornecidos pelo Google podem ser percebidos quase instantaneamente. Já danos, como abuso de dados, só são sentidos a longo prazo. É um ponto importante. É crucial ressaltar que os dados podem ser valiosos para pessoas, quando mostramos um caminho menos congestionado no Waze, por exemplo. Mas o usuário tem de ter poder de escolha para definir, por exemplo, que nós usemos seu histórico de busca, mas não o de localização. Queremos oferecer ferramentas flexíveis - e que as pessoas vejam valor em seus dados. Há uma diferença entre "usar dados" e "usar dados de maneira responsável"? Acredito que sim. Se você quer usar um assistente de voz, precisa confiar a ele suas informações. Um assistente que não sabe onde você mora ou o que gosta de comer pode não ser tão útil. Outro trabalho que fazemos é na área de segurança, buscando evitar problemas para o usuário. Assim, ele pode se sentir mais confortável para compartilhar dados conosco. A indústria de tecnologia pode se regular sozinha? Autorregulação é importante, porque faz a indústria avançar. O caso do atentado de Christchurch, por exemplo, nos fez avançar: estamos pensando cada vez mais sobre como diminuir o extremismo na internet. Mas leis governamentais também são importantes: vejo com ótimos olhos a criação, no Brasil, da Autoridade Nacional de Proteção de Dados. Privacidade pode ser usada para atrair consumidores? Adoto uma visão holística: as pessoas buscam um relacionamento confiável com empresas que fornecem serviços ou informação. Privacidade é um lado importante da confiança. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.