Já revisou suas previsões após o resultado do PIB do primeiro trimestre? Qual foi a maior surpresa?
Acabei reduzido de 0,9% para 0,8% a nossa previsão para o ano. Por enquanto, vamos manter nossa previsão de alta de 0,3% do PIB do segundo trimestre, porque a base de comparação de 2018 é muito baixa por conta da greve dos caminhoneiros. Agora, se essa queda que alguns esperam realmente ocorrer, o quadro estará muito ruim mesmo. O que mais me preocupou nos dados do PIB foi a queda de 1,7% na Formação Bruta de Capital Fixo (FCBF), mesmo com o problema contábil das plataformas antigas. Isso mostra que a grande esperança deste governo, que é a volta do investimento, não deve acontecer tão fácil. Os dados de confiança dos empresários pioraram e, sem confiança, não há investimento, mesmo com o juro caindo aqui e lá fora.
As pressões sobre o Banco Central para reduzir os juros, após o resultado do PIB, aumentaram. O BC deve ceder?
O problema do Brasil não são os juros. O maior problema é a falta de demanda. Se o Banco Central cortar os juros por conta do mercado financeiro, não vai gerar crescimento econômico e ainda poderá afastar o capital estrangeiro. A Bolsa chegou a 100 mil pontos, mas caiu e não consegue avançar mais. Por causa das pressões, minha projeção da Selic para o fim do ano é de queda de 6,5% para 5,75%. Mas admito que será muito arriscado cortar agora para ter que subir depois. O próprio mercado aposta em aumento dos juros em 2019. O BC está nessa armadilha terrível: tem motivos para cortar e para não cortar a Selic.
E qual sua avaliação sobre a medida de liberação do FGTS proposta pelo ministro da Economia Paulo Guedes? Vai adiantar?
É a mesma medida que o presidente Michel Temer tomou em 2017. Isso ajudou o PIB naquele primeiro ano após a recessão. Mas, agora, não há a mesma potência e, como o ministro disse que isso só ocorrerá depois da reforma da Previdência, não haverá impacto de curto prazo, o que não faz sentido. E o mercado achou positivo, porque sofre de ilusão monetária. Ou seja, os juros estão caindo lá fora e estão baixos aqui. Isso gera um alívio para todo mundo, mas não é. A confiança está caindo e as expectativas estão baixas porque já caíram muito. O mercado já trabalha com a certeza de corte de juros. Por isso, a Bolsa subiu com a queda do PIB. Mas a falta de demanda permanece. A liberação do FGTS pode gerar um alívio de curto prazo, mas pequeno, e não vai ser agora. Além disso, os juros já estão baixos e não adianta reduzir mais, porque não há procura por crédito. Não adianta ter o juro no lugar certo e a economia no lugar errado.
Quais riscos precisam ser considerados?
Existe o risco político de o presidente enfraquecer muito por conta do desemprego elevado. E isso se traduz em pressão por uma reforma da Previdência mais fraca a ponto de o ministro Paulo Guedes cumprir a ameaça. Ele deu uma cartada muito forte. E isso é muito pesado e preocupa. Esses riscos são reais. Muita gente gosta do Bolsonaro, mas se o desemprego persistir, não há como manter esse encantamento. E aí vão começar a aparecer os problemas, como o do (senador) Flávio (PSL-SP). Ele é o filho que pode dar mais problema para ele. Se as forças da oposição ou do Centrão começarem a ver uma oportunidade de pegar o presidente, ele pode ficar mais enfraquecido. Depois do trauma do impeachment da Dilma Rousseff, não sei se existe clima para um novo processo. Mas as coisas na política evoluem rápido. Ninguém no mercado quer pensar nisso e, por isso, foca em Paulo Guedes e acha bom que vivemos num semiparlamentarismo.