Postos de gasolina, shoppings, restaurantes e lojas de rua de 18 estados e do Distrito Federal participaram ontem da 11; edição do Dia Livre de Impostos. A data, criada para alertar sobre o peso da carga tributária no bolso dos consumidores, teve a adesão de mais de 2,3 mil lojas pelo país, que venderam produtos e serviços com descontos de 15% a 70%. Só na capital federal, o combustível, por exemplo, foi comercializado sem a tributação de 37% e saiu das bombas a R$ 2,93 ; com impostos, o preço sobe para até R$ 4,95.
;É importante essa mobilização, afinal, é uma maneira de demonstrarmos para os governantes que a economia pode girar muito mais se os produtos forem baratos. Dessa forma, podemos criar um ciclo virtuoso. Além de aumentar o poder de compra dos consumidores, as empresas prosperariam e contratariam mais funcionários;, lembrou o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do DF Jovem (CDLDF Jovem), entidade responsável pela iniciativa, Ítalo Portela.
Um relatório de 2017 feito pelo Conselho Internacional para Educação Aberta e a Distância (ICDE, sigla em inglês) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que os impostos cobrados em território brasileiro equivalem a 32% do Produto Interno Bruto (PIB) ; no Reino Unido, sexta maior economia mundial, o índice é de 32,5%. O Brasil ficou em último, entre os 30 países analisados, quanto ao retorno dos tributos em favor do bem-estar social. ;O Dia Livre de Impostos, acima de tudo, é uma manifestação. Apesar de a carga tributária no Brasil ser equivalente à de um país de primeiro mundo, recebemos serviços de terceiro mundo;, acrescentou.
Tempo de espera
Apenas dois postos de combustível em Brasília aderiram à campanha e viram 20 mil litros de gasolina se esgotar em menos de 12 horas. Cerca de mil condutores, que fizeram filas de quase 2km, foram beneficiados com o preço reduzido. ;Não foi uma promoção mas, sim, uma reclamação. Todo brasileiro está cansado de pagar tanto tributo e, a cada ano que passa, se conscientiza para o fato de que o alto preço da gasolina não é culpa dos gerentes de postos;, disse o empresário Thiago Jarjour.
Cada motorista pôde colocar 20 litros, como a corretora de imóveis Emanuela Flores, 37 anos, que saiu de Sobradinho para encher o tanque na Asa Norte. Ela aguardou mais de cinco horas na fila. ;Cheguei ainda de madrugada, às 5h30, para ser atendida às 11h. Foi puxado, mas valeu a pena. A questão não é nem economizar dinheiro, mas sim, demonstrar a minha insatisfação pelos tributos que nos são cobrados. A meu ver, é um abuso e não temos um retorno positivo;, reclamou.
Assim como Emanuela, o estudante de direito Bruno Leite, 32, tirou o carro da garagem como forma de protesto. ;Nós trabalhamos cerca de 150 dias no ano apenas para pagar imposto, portanto, nada mais justo que tenhamos pelo menos um dia sem ter de arcar com as cargas tributárias;, opinou. Apesar disso, ele reclamou do tempo de espera. ;A iniciativa é boa, mas colocar apenas uma bomba para atender todo mundo é um desrespeito. Ficar cinco horas aguardando é ruim para qualquer pessoa. Poderia ser diferente nas próximas edições;, sugeriu.
Cinco shoppings da capital abraçaram a causa. Gerente de marketing de um dos centros comerciais, Renata Monnerat disse que o movimento no centro comercial foi superior em pelo menos 50% se comparado ao de outros dias da semana. ;É um dia em que o consumidor entende o lado do lojista e passa a ter ciência de como é feita a composição dos preços de cada produto;, destacou.
Foi a segunda vez que a loja de óculos e relógios do empresário Thayrom Alves, 27, participou da iniciativa. Segundo ele, as vendas em comparação ao Dia Livre de Impostos de 2018 cresceram pelo menos 20%. ;O brasileiro passou a se preparar também para esta data, o que ressalta que, se a carga tributária não fosse tão pesada, o comércio teria resultados bastante expressivos;, opinou.
Lojas de rua do DF estrearam na edição deste ano, como a de Getúlio Ribeiro, 33. Gerente de um estabelecimento de artigos infantis, ele ficou satisfeito com a primeira impressão da data, e estimou um faturamento três vezes maior do que os de dias comuns. ;Aos poucos, o Dia Livre de Impostos se enraíza na cultura dos consumidores do país, e pode se tornar uma ;black friday; do primeiro semestre. É uma data muito importante para o nosso calendário, seja pelo cunho de protesto, seja pelo cunho de descontos;, definiu.