Economia

Indigesto? Setor de insetos comestíveis ganha mercado

Demanda crescente por alimentos ricos em proteína impulsiona a nova indústria. Itens como snacks de bichos-da-seda e farinha de grilo chegam às prateleiras dos supermercados

Jaqueline Mendes
postado em 31/05/2019 06:00
Snacks Bella Pupa já são um sucesso de vendas, mas por enquanto estão disponíveis só na China

São Paulo ;
A indústria de insetos comestíveis está crescendo rapidamente. Nos Estados Unidos e na Holanda, já é possível comprar alimentos processados que têm como base grilos e larvas. A China acaba de lançar uma novidade: salgadinhos feitos a partir de bichos-da-seda. Criados pela empresa Bugsolutely, os snacks Bella Pupa chegaram no fim do ano passado aos supermercados e, segundo seus inventores, se tornaram rapidamente um sucesso de vendas.

;Comparado com carne de porco e frango, o bicho-da-seda tem o dobro de aminoácidos essenciais, o dobro do ferro encontrado em um ovo e mais de 10 vezes os valores de zinco e magnésio do que o leite;, garante Massimo Reverberi, fundador da Bugsolutely.

O potencial econômico parece mesmo ser imenso. Bichos-da-seda são um subproduto da indústria da seda e se alimentam apenas de folhas de amoreiras, fatores que tornam o seu custo de produção muito baixo. Por enquanto, os snacks estarão disponíveis apenas no mercado chinês, mas a empresa pretende levá-los para a Europa e os Estados Unidos até o fim do ano.

Fundada em 2016, a Bugsolutely lançou nos últimos três anos uma grande variedade de produtos à base de insetos. Na China, o maior sucesso de vendas é a farinha de grilo, encontrada facilmente em todas as redes de supermercados do país. Segundo os nutricionistas da Bugsolutely, a farinha de grilo é rica em proteínas, vitaminas e elementos minerais, o que a torna uma opção interessante para pessoas que preferem o consumo de alimentos saudáveis.

Do ponto de vista financeiro, trata-se de um negócio com enorme potencial. Os grilos precisam de pouca comida e água para se desenvolver (o que reduz sensivelmente os custos de produção) e crescem muito rápido. Além disso, exigem apenas 2kg de ração para produzir 1kg de proteína, enquanto uma vaca precisa de 10kg. ;Eles convertem comida em proteína de um modo muito mais efetivo do que qualquer outro animal;, diz o fundador da Bugsolutely. ;Quando a sociedade abandonar velhos preconceitos, os insetos poderão alimentar bilhões de pessoas e podem até ajudar a combater a fome no mundo;.

Não à toa, a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), agência das Nações Unidas que lidera os esforços internacionais para erradicar a fome e a destruição, tem defendido a difusão dos insetos como fonte de proteína em países pobres. Diversos projetos nesse sentido estão sendo aplicados principalmente na África e na Ásia.

Os defensores dos insetos na alimentação também afirmam que a sua produção em larga escala será benéfica para o meio ambiente. Estudos recentes mostram que as emissões de gases do efeito estufa provenientes da agricultura de insetos são 40% inferiores às emissões da pecuária, além de, obviamente, exigir áreas muito menores para a produção.

Não é apenas na Ásia que os negócios proliferam. A indústria de insetos comestíveis está se desenvolvendo rapidamente no mundo ocidental. As características saudáveis dos produtos, os custos relativamente baixos de produção e o tremendo potencial econômico do negócio estimularam o surgimento de um grande número de startups ligadas a esse tema na Europa e nos Estados Unidos.

Em meados do ano passado, a União Europeia regulamentou a produção dos insetos e estabeleceu uma série de normas para permitir a venda nos supermercados e restaurantes. Nos Estados Unidos, existem feiras gastronômicas focadas no assunto e há até restaurantes estrelados que oferecem formigas no cardápio.

No Brasil, barreiras culturais ainda fecham as portas para alimentos baseados em insetos. Com o avanço da indústria em diversas partes do mundo, a tendência, porém, é de que o preconceito fique para trás. Diversas startups nacionais têm projetos na área. É o caso da Hakkuna, de São Paulo, que pretende lançar no futuro próximo uma barra de proteínas feita com farinha de grilos-pretos, comuns no Brasil.

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