Jornal Correio Braziliense

Economia

Consumo das família segue positivo e evita queda maior do PIB

Famílias reduzem compras, mas índice se mantém positivo em 0,3% de janeiro a março, segurando o resultado negativo da atividade econômica no período. Desemprego em alta e diminuição da renda impactam na desaceleração do indicador



Do lado da demanda, o consumo das famílias evitou que o Produto Interno Bruto (PIB) tivesse um desempenho pior do que o registrado nos três primeiros meses de 2019. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de consumo cresceu 0,3% de janeiro a março, em comparação com o quarto trimestre de 2018. O item tem grande influência nas contas nacionais, com impacto de cerca de 74%. O setor de serviços, por sua vez, ajudou pelo lado da oferta, com avanço de 0,2% no mesmo período de comparação.

Apesar de estar com desempenho positivo desde o primeiro trimestre de 2017, os dados mostram desaceleração do consumo das famílias, o que preocupa economistas. Nos últimos dois trimestres de 2018, as altas foram de 0,6% e 0,5%, respectivamente, e caíram mais um pouco nos três primeiros meses deste ano. Claudia Dionísio, gerente de Contas Nacionais do IBGE, demonstrou que é um sinal de alerta. ;O consumo das famílias está perdendo força, como reflexo da piora do mercado de trabalho e da renda, pois ainda há muito emprego sendo criado na informalidade. O índice ainda está positivo, mas não está crescendo a passos largos;, alertou.

O instituto mostrou que a taxa de desemprego voltou a subir no primeiro trimestre de 2019, atingindo 13,4 milhões de pessoas. Além disso, os números de pessoas subutilizadas e desalentadas estão no maior nível da história. A professora Virene Matesco, do Master of Business Administration (MBA) da Fundação Getulio Vargas (FGV), entende que qualquer reação positiva no consumo é como um alento para economia, mas que não é possível comemorar os dados.

Para ela, expansão de 0,3% é muito baixa. ;O PIB do país não caiu mais graças ao consumo, que deu uma comparação de quase estagnação. As famílias, por mais que tenhamos uma taxa de desemprego altíssima, beirando 13%, têm que consumir. Isso tem um impacto positivo na economia, mas é o mínimo. Não é consumo de bens supérfluos;, ressaltou.

Expectativa


A professora também destacou que a perspectiva é que o consumo das famílias cresça 2% em 2019, mas que o PIB deve atingir expansão menor do que 1%. ;A inadimplência está elevada, e esse consumo de bens duráveis requer financiamento e crédito. As famílias ainda estão sem acesso a financiamento e, por isso, o mercado de crédito também não está tão aquecido. Quem está endividado e precisa de empréstimo não tem garantias de pagamento;, avalia a analista da FGV.

A família Serra teve que diminuir o consumo neste ano. ;Eu gostava muito de comprar roupas e sapatos, por exemplo, mas agora está tudo muito caro;, criticou a servidora pública Maria Thereza Serra, 53 anos, que é mãe. Além dela, a família é formada por mais dois integrantes, o marido Edmur Carlos Gonçalves de Oliveira Júnior, 59, e o filho Bruno Serra, 19. Segundo eles, os maiores gastos são com supermercado e farmácia.

Em média, a família gasta cerca de R$ 2 mil por mês com alimentação. ;Buscamos sempre oferta;, disse Thereza. ;Mas compramos mais do que o necessário. Somos três e fazemos compra para cinco pessoas. Temos que mudar. Além disso, evitamos comprar produtos alimentícios que estão muito caros e substituímos por parecidos. Se a marca é similar, consigo trocar;, completou a mãe.

O presidente do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Roque Pellizzaro Junior, destacou que, pelo fato de o consumo crescer de forma lenta, o nível ainda não retornou para o patamar pré-crise. ;O quadro deve permanecer assim por mais este ano: atividade e consumo reagindo mais lentamente do que se esperava. Isso acontece porque aquele otimismo dos primeiros meses do ano não demorou a dar lugar a incertezas;, disse. ;A melhora do consumo virá a reboque da melhora do mercado de trabalho, com a redução do desemprego e ganhos de renda. Além do desemprego, a inadimplência, apesar de já não crescer tanto como anteriormente, continua muito elevada, limitando o consumo. Para este ano, há poucas chances de uma queda substancial do desemprego;, completou.

* Estagiárias sob supervisão de Rozane Oliveira