Dever faz mal à saúde. É o que mostra pesquisa do Instituto Locomotiva, que será divulgada em 3 de junho. De acordo com o estudo, 54,8 milhões de brasileiros têm o sono prejudicado por causa de dívidas; 54,1 milhões, a autoestima afetada; 53,5 milhões, o rendimento profissional; e 45,3 milhões sofrem uma queda no apetite. Além desses efeitos, 45,9 milhões não atendem ligações de cobradores e 44,7 milhões sentem vergonha e medo de que alguém descubra que estão ;negativados;.
Aposentado por invalidez, André Luiz Santtana, 49 anos, conta que a sua preocupação com as dívidas agravam ainda mais o seu estado de saúde. ;Quando estou muito endividado, eu não consigo me concentrar. Só penso na dívida e em como resolver. Isso me cansa muito. Me atrapalha, ainda mais que sou portador da esclerose múltipla, quanto mais eu fico nervoso, mais eu vou ficando debilitado e isso me consome.;, contou.
O autônomo José Antônio Ribeiro, 59, diz não se preocupar com as dívidas em si, mas com a falta de dinheiro. ;Estou com uma dívida no banco que pagava direitinho, mas por causa da crise não tenho como quitar. O que me preocupa é a falta de dinheiro mesmo. Quanto à dívida, se eu não posso pagar, eu não perco meu sono, não. Mas sem dinheiro, a gente fica realmente sem chão.;, disse.
Segundo dados da Serasa Experian, divulgados em abril, o número de pessoas com o nome sujo ou com dívidas em atraso alcançou 63 milhões em março, o maior patamar desde o início da série histórica, iniciada em 2016. O educador financeiro e diretor do Instituto Eu Defino, Alexandre Arci, acredita que a falta de discussão sobre o dinheiro é o principal fator para o endividamento. ;As pessoas chegaram a tantas dívidas porque esse tema era considerado um grande tabu até recentemente. Falar sobre dinheiro ainda é algo agressivo entre algumas famílias e casais, e a educação financeira existe para mudar isso;, explica Arci.
Prioridades
Para o especialista, o ;grande segredo; para que as dívidas sejam quitadas e evitadas está no processo de priorização interna. ;É fundamental que as pessoas saibam o que é mais importante para elas. Assim, é possível dividir o orçamento abrindo mão de algumas coisas e priorizando aquelas que são de extrema necessidade. Para que isso aconteça, o tabu ;dinheiro; precisa ser eliminado. Antes de tudo, o dinheiro precisa ser discutido dentro das famílias;, afirma.
Atualmente desempregada, Maricélia Mata, 42, evita ao máximo parcelar para não se endividar. ;Uma vez precisei muito, estava passando por um momento difícil, com câncer, e tive que usar o cartão para pagar exames. Eu estava doente e precisava pagar o exame, minha preocupação só se multiplicou. Vejo muita gente que não se controla. Mas, se eu não posso, eu não gasto, só quando não tenho alternativa mesmo.;, disse.
Olga Tessari, psicóloga, explica o ciclo vicioso das dívidas. Muitas vezes, uma piora na saúde mental e baixa autoestima levam ao gasto desenfreado e endividamento. Porém, ao gerar dívidas, o indivíduo tem sua autoestima ainda mais prejudicada. ;As pessoas criam dívidas por impulso. Na grande parte das vezes, o indivíduo compra além do que pode para se sentir melhor consigo mesmo, para ficar mais bonito diante dos outros, ou para exibir um status social que não tem, mas se decepciona quando isso não acontece;, esclarece.
Para quitar uma dívida e evitar a criação de novas, a psicóloga sugere a negociação do pagamento com a pessoa a quem deve, e em última ocasião, a parcela do valor, de forma que não ultrapasse o orçamento individual. ;Além disso, para evitar dívidas, é necessário sempre saber quanto se pode gastar ao ir às compras, e nunca ultrapassar esse limite. Mas o ponto mais importante para o equilíbrio financeiro é sempre se perguntar de que forma uma compra vai interferir na sua vida, se realmente vai fazer diferença.;
* Estagiárias sob supervisão de Rozane Oliveira