Depois de ensaiar uma queda expressiva pela manhã, quando desceu até a mínima de R$ 4,0076, o dólar reduziu gradativamente as perdas em relação ao real ao longo da tarde e encerrou o dia cotado a R$ 4,0407, em baixa de 0,18%. Segundo operadores, a aceleração das perdas da maioria das moedas emergentes, em meio a atritos entre China e Estados e a divulgação da ata do Federal Reserve, se contrapôs ao ambiente interno menos tenso e tirou força do real durante a segunda etapa de negócios.
Operadores ressaltam que, passado o movimento técnico de desmonte de posições compradas em dólar ontem e pela manhã de hoje, houve uma acomodação do preço da moeda americana, com investidores adotando uma postura mais cautelosa. Se parece afastado o risco de uma crise política aguda, após o Congresso destravar a votação das MPS, ainda há muitas incertezas em torno do andamento das reformas e, por tabela, a melhora da perspectivas econômicas.
Um sinal de alerta surgiu na reta final dos negócios, quando houve a primeira tentativa da Câmara de votar a MP 870, que reorganiza os ministérios, malogrou por falta de quórum, após embate entre partidos do Centrão e o PSL, legenda de Bolsonaro. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), convocou nova sessão e as negociações para votação prosseguem na Casa.
Para o especialista no mercado de câmbio Jefferson Laatus, o alívio político, com o Centrão se dispondo a votar as MPs, amenizou as tensões políticas, mas não eliminou as incertezas sobre a relação entre Congresso e governo. "O mercado se tranquilizou, mas não muito. O dólar continua ainda acima de R$ 4, com muitos players ainda comprados", dia Laatus, ressaltando a volatilidade da cotação nesta quarta-feira, 22, com o dólar ameaçando zerar as perdas fortes pela manhã ao longo da tarde.
O Banco Central, diante da escalda da moeda americana na semana passada, se limitou a anunciar a antecipação da rolagem de linhas com recompra que venceriam na virada do mês - ou seja, não trouxe dinheiro novo para o mercado. O BC conclui a antecipação da rolagem hoje com a venda de R$ 1,250 bilhão em leilão de linha.
Às incertezas domésticas soma-se o ambiente propício ao fortalecimento do dólar no exterior, em meio ao desempenho forte da economia americana e disputa comercial sino-americana. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, disse que o governo chinês deu um "grande passo atrás nas negociações".
A ata do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) frustrou quem esperava um sinal, ainda que tênue, de que poderá haver corte de juros neste ano. O BC americano reiterou a postura "paciente" ao avaliar qualquer ajuste na política monetária. Leia-se: não se pode contar com um corte de juros no segundo semestre, fator que poderia tirar força do dólar.
Lá fora, a moeda americana subiu hoje na comparação com a maioria das divisas de países emergentes e exportadores de commodities, com avanços mais fortes em relação a lira turca, mas caiu na comparação com moedas consideradas pares do real, como o peso mexicano e o rand-sul africano.