O estresse com o cenário político agravou-se nesta sexta-feira, 17, e, se nos últimos dias a perspectiva de atividade fraca limitava em alguma medida a colocação mais forte de prêmio de risco na curva juros, nesta sexta os investidores promoveram forte zeragem de posições vendidas, em especial na ponta longa. Os contratos com vencimento a partir de 2025 tinham avanço de quase 20 pontos-base em relação ao ajuste de quinta no fechamento da sessão regular, refletindo o risco de a reforma da Previdência não ser aprovada este ano ou até mesmo, num cenário mais pessimista, não sair.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 terminou em 8,91%, pico desde 27 de março (9,15%), de 8,722% quinta no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2027 avançou de 9,051% para 9,25%, maior também desde 27/3 (9,49%). Na semana, subiram entre 30 e 40 pontos-base. A do DI para janeiro de 2023 subiu de 8,122% para 8,30% (máxima), maior desde 17 de abril (8,31%). Na sexta-feira anterior, tinha fechado a 8,01%. Nem os curtos escaparam da aversão ao risco e também subiram. A taxa do DI para janeiro de 2021 fechou com taxa de 7,05%, de 6,921% quinta no ajuste e 6,89% na sexta-feira passada.
O clima externo também não ajudou, em função da perspectiva pessimista de fechamento de um acordo comercial entre a China e os Estados Unidos, com informações no fim do dia de que as discussões previstas não ocorreram desde que o governo americano ampliou sua ofensiva sobre empresas de telecomunicações chinesas.
Renan Sujii, estrategista de Mercado da Harrison Investimentos, afirma que o mercado de juros, que vinha adiando uma repercussão mais forte do agravamento do quadro político, nesta sexta fez uma correção de verdade das quedas recentes que jogaram as taxas para perto das mínimas históricas. "Os juros hoje (sexta) estão mais estressados do que a bolsa. O mercado parece que tinha 'esquecido' um pouco das taxas nos últimos dias e hoje (sexta) começou a ajustar. Foi uma semana pesada, marcada pelos protestos nas ruas e reação de Bolsonaro a eles nada construtiva, quebra de sigilo bancário do filho do presidente, entre outras questões", afirmou.
Com isso, o mercado está embutindo nos preços maior atraso e também mais desidratação na reforma da Previdência. "Temos pouca evolução do andamento da proposta e vai se jogando o prazo mais para frente. Começou-se já a falar em 2020, quando teremos eleições municipais e tudo se complica", afirmou Sujii.
O texto distribuído pelo presidente Jair Bolsonaro em grupos de WhatsApp "não ajuda em nada", diz o profissional. De "autor desconhecido", o texto diz que o presidente está "sofrendo pressões de todas as corporações, em todos os poderes" e afirma que o País "está disfuncional", não por culpa de Bolsonaro, mas que "até agora (o presidente) não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou". O texto termina com a seguinte frase: "Infelizmente o diagnóstico racional é claro: 'sell'".