Jornal Correio Braziliense

Economia

Cautela com ambiente político impede queda mais forte do dólar

Depois de uma manhã de volatilidade, alternando altas e baixas, o dólar à vista operou em leve queda ao longo da tarde desta terça-feira, 14, e, com uma leve recuperação na reta final dos negócios, fechou a R$ 3,9766, praticamente estável (-0,07%). A ligeira recuperação do real nesta terça-feira veio no bojo de um movimento global de perda de força da moeda americana em relação a divisas emergentes, após declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, arrefecerem os temores de um recrudescimento ainda maior das tensões comerciais sino-americanas. A leitura nas mesas de operação é que o real poderia até ter se fortalecido um pouco mais caso não tivessem surgido novos ruídos no ambiente político, com a quebra do sigilo do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e a menção do nome do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) em delação premiada de Henrique Constantino, um dos donos da Gol. Esses dois episódios se somam aos problemas de articulação política do governo Jair Bolsonaro, evidenciada pela morosidade na apreciação da MP da reforma administrativa, e lançam dúvidas sobre o ritmo de andamento da reforma da Previdência. Para Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, a despeito da leve queda nesta terça, o dólar permanece em um nível elevado, em razão tanto do ambiente externo conturbado, com as tensões comerciais sino-americanas, quanto dos temores de que a reforma da Previdência se arraste ao longo do segundo semestre e seja muito diluída. "Apesar da recuperação, a condição internacional é muito ruim para divisas emergentes. Aqui houve estresse adicional pela manhã com essa notícia do Maia e a quebra do sigilo do Flávio Bolsonaro. O mercado considera Maia o principal ponto de apoio da Previdência no Congresso, e qualquer notícia contra ele é ruim", afirma a estrategista, ressaltando que o alívio do dólar à tarde veio na esteira de declarações do presidente americano que amenizaram a aversão ao risco. Na tática "morde e assopra", Trump disse que tem uma relação "extraordinária" com o líder chinês, XI Jinping, e que os chineses "querem fazer um acordo". Com o alívio nas tensões, as moedas emergentes e de exportadores de commodities engataram uma recuperação parcial da perdas de segunda. O dólar apresentou perdas maiores em relação o rand sul-africano, a lira turca e o rublo (entre -0,40% e -0,60%). Em relação ao peso colombiano e mexicano, considerados pares do real, a queda foi menor (em torno de -0,20%). Para a estrategista do Banco Ourinvest, a possibilidade de um movimento de apreciação do real capaz de levar a cotação para R$ 3,80 depende da aprovação de uma reforma da Previdência com "níveis aceitáveis" de economia. "Por outro lado, se por acaso a reforma se arrastar e acabe sendo muito desidratada, o dólar pode ir para cima de R$ 4", diz Fernanda Consorte. No mercado futuro, o dólar para junho trabalhou em queda mais forte durante todo o dia e fechou a R$ 3,9835, em baixa de 0,51%. O giro foi US$ 20 bilhões, em linha com a média dos últimos dias. No mercado à vista, o giro foi de US$ 1,002 bilhão. Segundo o operador Cleber Alessie, da H.Commcor, o tombo mais acentuado do dólar futuro se deve a fatores técnicos. Na segunda, com o mercado à vista fechado, a cotação da moeda americana para maio acelerou e fechou acima de R$ 4. Com isso, era natural que houvesse um ajuste maior na sessão desta terça, com investidores ajustando posições. "O dólar futuro caiu em linha com o desempenho das moedas emergentes, espelhando mais o ambiente externo", diz Alessie.