Jornal Correio Braziliense

Economia

Dólar avança para R$ 3,9354 com temores de atraso na reforma da Previdência

Temores de desidratação precoce da reforma da Previdência e de uma tramitação morosa da proposta do governo no Congresso desencadearam uma corrida ao dólar na sessão desta quarta-feira, 17. Como a liquidez no pregão de quinta deve ser reduzida, por conta do feriado na sexta-feira, investidores preferiram adotar uma postura defensiva e zerar posições vendidas na moeda americana. Afora uma leve queda no início dos negócios, na esteira de valorização de divisas emergentes após dados positivos da economia chinesa, o dólar passou o dia inteiro em alta e, com máxima de R$ 3,9471, encerrou os negócios com valorização de 0,85%, a R$ 3,9354 - maior preço de fechamento desde 27 de março deste ano. O estopim para a corrida ao dólar foi o malogro na votação da admissibilidade do parecer do relator da PEC na Comissão e Justiça da Câmara (CCJ) da Câmara, após a oposição e partidos do Centrão demandarem retirada do texto de pontos não ligados diretamente à Previdência, como fim da multa do FGTS para quem já é aposentado, possibilidade de alterar a idade máxima dos ministros do Supremo Tribunal (STF) Federal por meio de lei complementar, restrição a abono salarial e a prerrogativa de apenas o Executivo alterar regras do sistema previdenciário. Após reunião com líderes partidários à tarde, o secretário especial da Previdência, Rogério Marinho, disse que o governo aceita negociar alterações na proposta ainda na CCJ, mas foi enfático ao dizer que ainda não há acordo em relação aos trechos que serão suprimidos. "Só teremos acordo se for na sua integralidade", disse. A expectativa é que seja possível costurar um acordo para reformulação do parecer até terça-feira, dia 23, quando está marcada a próxima reunião da CCJ da Câmara e, em tese, seria possível votar a admissibilidade da PEC. Um experiente gestor de recursos de uma asset independente diz que o amadorismo do governo na articulação política assusta os investidores e leva à percepção de que a economia com a reforma ficará muito aquém do R$ 1 trilhão em dez anos almejado por Guedes. "A tramitação ainda nem bem começou e o governo já acumula várias derrotas. Não se contatava com a possibilidade de mudanças no texto já na CCJ", diz. Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, se houver a aprovação na CCJ na semana que vem, pode haver um alívio no mercado de câmbio, com o dólar voltando a trabalhar abaixo de R$ 3,90. "O mercado já não dá mais o benefício da dúvida para o governo. Todo mundo acredita que a reforma vai sair, mas qualquer problema já leva os agentes para posições mais defensivas", diz Galhardo. A preponderância do componente doméstico na alta do dólar é incontestável, já que a moeda americana perdeu força em relação a divisas emergentes e de exportadores de commodities, após dados positivos da economia chinesa mitigarem temores de desaceleração da economia mundial. O PIB chinês cresceu 6,4% no primeiro trimestre, acima do esperado por analistas (6,3%). Operadores destacam que há também uma movimentação dos estrangeiros no mercado futuro de dólar que pressiona as cotações no mercado à vista. Segundo dados da B3, na terça-feira os estrangeiros elevaram em US$ 1,4 bilhão as posições compradas em dólar futuro, que ganham com a valorização da moeda americana.