O dólar teve um movimento de correção nesta segunda-feira, 15, após subir 1,7% nas duas últimas sessões da semana passada. Investidores aproveitaram o dia de dólar em baixa no exterior e de noticiário local fraco para desfazer posições defensivas na moeda americana. O mercado passou o dia monitorando e esperando o resultado de dois eventos, um encontro entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente Jair Bolsonaro, para discutir os preços do diesel, e uma reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara para discutir a reforma da Previdência e a proposta do Orçamento impositivo.
O dólar à vista fechou em queda de 0,52%, a R$ 3,8681. Pela manhã, a moeda americana abriu em alta e chegou a encostar novamente em R$ 3,90, como já havia feito na sexta-feira após Bolsonaro segurar o aumento do preço do diesel que havia sido decidido pela Petrobras. A moeda neste patamar atraiu vendedores, principalmente exportadores, de acordo com operadores e as cotações passaram a cair.
Na parte da tarde, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deu declarações positivas sobre a Previdência, reforçando que acredita na aprovação do texto na CCJ nesta terça-feira e que a economia fiscal em 10 anos deve ficar perto do esperado pelo governo, R$ 1,1 trilhão. Para o operador da CM Capital Market Thiago Silêncio, o dólar fraco no exterior ajudou a estimular um movimento de correção no mercado doméstico, enquanto o mercado aguardava o resultado da reunião da CCJ e do encontro de Guedes com Bolsonaro.
Para o economista da consultoria inglesa Capital Economics, Oliver Jones, mesmo após os recentes eventos em Brasília - Bolsonaro segurando os preços do diesel, denúncias de corrupção envolvendo Maia e falta de articulação entre Planalto e Congresso - ainda há um grau de otimismo dos investidores sobre as chances de aprovação da reforma da Previdência. A preocupação com a tramitação aumentou, ressalta ele, tanto que os ativos brasileiros passaram por correção, mas segue a percepção de que o texto vai passar. Para Jones, a percepção da consultoria é que o texto vai demorar "bastante tempo" para ser aprovado pelo Congresso e deve ser bem diluído. A expectativa é de mercado volátil nos próximos meses.
Os economistas do JPMorgan Cassiana Fernandez e Vinicius Mor destacam em relatório que os primeiros 100 dias do governo de Bolsonaro terminaram com "tensões em alta" entre o Executivo e o Legislativo, o que aumenta a chance de a aprovação da reforma da Previdência sofrer atrasos ou ser mais desidratada que o esperado. O banco americano, porém, ainda acredita que o texto será aprovado este ano no Congresso, mas vê mais riscos de a economia fiscal da reforma ficar abaixo do que inicialmente estimaram, de R$ 700 bilhões em 10 anos.