A inflação voltou a provocar estado de alerta. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou fortemente em março, elevando a taxa de 3,89% para 4,58% no acumulado de 12 meses ; superior ao centro da meta, de 4,25%, estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Segundo os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os grupos de alimentos e transportes foram os grandes vilões do último mês.
Os dois juntos somaram cerca de 80% do índice, que registrou alta de 0,75% em março. Enquanto a inflação de alimentos avançou 1,37%, os preços relacionados aos transportes avançaram 1,44% no mês. Contribuíram para a alta do IPCA o encarecimento do tomate, das frutas, do feijão-carioca, da batata-inglesa e da cebola. A gasolina foi o vilão do consumidor, aumentando 2,88% no período.
De acordo com analistas, a inflação mais forte ocorreu influenciada basicamente por esses dois grupos. A chuva mais forte prejudicou o plantio de produtos in natura, e o dólar mais caro elevou o preço da gasolina. O economista Rafael Cardoso, da Daycoval Asset Management, no entanto, afirmou que o choque de preços dos últimos meses tende a ser passageiro, principalmente o dos alimentos. ;Esperamos que parte da devolução ocorra já em maio e nos meses subsequentes. Após a leitura de julho, por exemplo, o IPCA acumulado deverá estar mais próximo de 3% do que de 4%;, afirmou.
A servidora pública Shirley Silva Diogo, 36 anos, sente no bolso a alta, principalmente de alimentos. ;As frutas aumentaram muito, principalmente o maracujá;, reclamou. Por semana, ela gasta em média R$ 130 com alimentos in natura. Mas, sempre que percebe uma alta, adia a compra até o preço cair. ;Frutas, só compro em um supermercado e, quando percebo que estão caras, espero o dia da promoção;, comentou.
A advogada Patrícia Martins, 43, critica o custo dos combustíveis. ;A gasolina está muito cara. As vezes vejo se vale mais a pena andar de carro ou de aplicativo;, apontou. Patrícia utiliza bastante o carro para viagens a trabalho em outro estado, então, o orçamento para combustível varia de acordo com a época. De qualquer forma, a advogada sempre separa pelo menos R$ 400 mensais para abastecer. ;Ainda não tive que cortar gastos para conseguir abastecer, mas provavelmente um dia terei de fazer;, afirmou.
Juros
Por conta da inflação mais alta, as chances de o Banco Central (BC) reduzir a taxa Selic em 2019 diminuiu. O economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, ressaltou que a inflação deve continuar vindo acima do centro da meta nos próximos meses e que, apesar de não ser um quadro preocupante, acende o radar da autoridade monetária, já que possíveis pressões devem aumentar o índice no futuro.;Os indicadores do núcleo de inflação mostram que o IPCA está rodando tranquilo, mas não dá segurança para cortar a taxa Selic. Exige uma certa cautela do BC. A Selic deve terminar o ano em 6,5% ao ano;, disse. ;Uma possível redução pode não acontecer porque, com a reforma da Previdência, a atividade econômica vai retomar de forma mais forte, pressionando os preços;, completou.
Breno Martins, economista da Mongeral Aegon Investimentos, afirmou que a inflação de abril deve vir acima de 0,48%, mantendo o acumulado de 12 meses acima do centro da meta. ;Apesar disso, acredito que o efeito vai dissipar no terceiro trimestre. Olhando o cenário de inflação, os núcleos mostram que está rondando os 3,5% no acumulado de 12 meses. Então, o IPCA deve terminar 2019 em 4%, e os juros em 6,5% ao ano;, avalia.
* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira