Jornal Correio Braziliense

Economia

Juros caem com reforma, dólar e discursos de Guedes e Campos Neto em NY

A melhora na percepção de risco político, com a contribuição da queda do dólar, reduziu prêmios na curva de juros local nesta quarta-feira, 10, a despeito do IPCA de março acima das estimativas dos analistas. A leitura do parecer sobre a reforma da Previdência na terça à noite na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, apesar das intervenções da oposição, foi vista como mais uma etapa cumprida na tramitação do texto no Congresso, o que trouxe alívio quanto ao risco de novos atrasos no cronograma. A isso, somaram-se outros fatores considerados positivos, como o fechamento do acordo da cessão onerosa do pré-sal e declarações otimistas do ministro Paulo Guedes e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em Nova York, para estimular o recuo das taxas. Já a divulgação da ata do Federal Reserve, principal evento da tarde, não chegou a mexer diretamente com as taxas. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou na mínima de 6,465%, de 6,490% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2021 caiu de 7,092% para 7,06%. A taxa do DI para janeiro de 2023 terminou em 8,16%, de 8,252%. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 8,67%, de 8,792% na terça no ajuste. "O relatório não parecia ser um grande empecilho, mas o fato de ter conseguido ser lido na terça já foi bem recebido, sinalizando que o cronograma da Previdência está em dia. Também os discursos nesta quarta em NY foram bem aceitos, o que ajudou a compor o ambiente favorável", disse o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi. O parecer do relator Marcelo Freitas (PSL-MG), a favor da admissibilidade do texto, deve ser votado na CCJ da Câmara no próximo dia 17. Outra notícia que reforça a sensação de que a reforma está, finalmente, "caminhando" no Congresso é a instalação, no Senado, de uma comissão especial para acompanhar a tramitação da proposta enquanto ela ainda está na Câmara. A melhora do contexto para a tramitação da Previdência ajudou a ampliar o volume de contratos, que vinha sendo baixo nos últimos dias. O fluxo doador também foi estimulado por outros fatores positivos, que resultaram no movimento de "flattening" (taxas longas caindo mais do que as curtas) da curva. Entre eles, as declarações de Guedes e Campos Neto, em Nova York. Caramaschi afirmou ainda que fez parte desse "pacote" de notícias favoráveis nesta quarta do acordo da cessão onerosa do pré-sal, pelo qual o governo pagará à Petrobras US$ 9 bilhões. "Do ponto de vista macro, o fato de isso finalmente ter tido um desfecho acaba sendo bem recebido", disse, lembrando que o acordo abre caminho para a realização dos leilões do excedente. Os dois principais eventos da agenda da quarta-feira, IPCA e ata do Federal Reserve, acabaram não interferindo na trajetória da curva. A ata apenas endossou a avaliação de que a política monetária norte-americana deve manter-se na linha "dovish", sem aumento nos juros em 2019. O IPCA de março, de 0,75%, foi a maior taxa para o mês desde 2015 e superou o teto das estimativas dos analistas (0,67%). Ainda assim, não trouxe estresse, uma vez que a pressão veio do choque de oferta de alimentos e preços administrados.