Jornal Correio Braziliense

Economia

Disputa pelo poder segue na Apex; diretora de Negócios não pode contratar

Presidente da agência proíbe contratação e até entrada no órgão de pessoas indicadas pela diretora de Negócios. Caso do ex-candidato a deputado Paulinho Vilela, do PSL, chamado para a gerência de agronegócios, que trabalhou três meses de um café


Uma das primeiras crises do governo Bolsonaro, a disputa por espaço na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), que veio a público no início de janeiro, parece longe do fim. Em um dos capítulos dessa novela, o embaixador Mario Vilalva, chefe do órgão, retirou o poder de contratação e proibiu a entrada no prédio da agência de funcionários indicados pela diretora de Negócios, Letícia Catelani. Um deles, o ex-candidato a deputado federal Paulinho Vilela (PSL-PR), convidado pela diretora para o cargo de gerente de agronegócios, passou três meses trabalhando de um café, sem receber por isso.

Paulinho, que não tem ensino superior (uma exigência para o cargo), voltou para o Paraná, mas conversou com o Correio por telefone. Disse que é produtor rural há quatro gerações e que foi diretor internacional da Sociedade Rural do Paraná, onde ainda é conselheiro. Admitiu que foi convidado para a gerência por Letícia Catelani, contou que nunca falou com Vilalva, mas que, se o chamarem de volta, ele está disponível. O ex-candidato afirmou, ainda, considerar o tempo que trabalhou a partir do estabelecimento comercial próximo à Apex como ;voluntário;, mas demonstrou frustração por ter sido colocado nessa situação.

;Tudo que fiquei sabendo foi pela imprensa. Tentaram me desqualificar e minha contratação não acontecia. O presidente não assinava a recomendação dos dois diretores (Letícia Catelani e o diretor de Gestão Corporativa, Márcio Coimbra) e fiquei como voluntário;, relatou o ex-candidato. Paulinho afirmou ter levado consigo outras duas pessoas, que chegaram a entregar a carteira de trabalho e fazer o exame admissional mas, num dado momento, também foram proibidas de entrar no prédio. ;Não vou expôr nomes. Trabalharam na Vale, na Bunge. Têm reputação ilibada e expertise para o agronegócio, mas não foram contratadas porque o presidente tem algum tipo de implicância com a diretora;, supôs.

Questionado sobre o que fazia no café, Paulinho disse que não despachava, pois não podia assinar documentos. ;Apenas dei sugestões e pareceres e fiz análises. Tenho mais de 20 cartas de recomendação de entidades e empresas do setor chancelando meu nome. É triste que me colocaram para trabalhar do café. É um descaso com o produtor rural, que nunca teve voz. Temos apenas 16 programas setoriais na Apex. É pouco para o agronegócio, que representa um terço do Produto Interno Bruto do país. Quando cheguei, comecei a ligar para cooperativas e produtores. Dizer que estávamos com os portões abertos para o setor;, contou.

Quiprocó

A primeira disputa entre diretoria e Presidência da Apex, ainda em janeiro, envolveu Letícia Catelani e Márcio Coimbra ; indicados pelo filho do presidente da República, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ; contra o então chefe da Apex, Alex Carreiro, indicado por Jair Bolsonaro. Carreiro não tinha qualificações para o cargo e logo entrou em conflito com Letícia. O chanceler Ernesto Araújo tentou demiti-lo via Twitter. ;O Sr. Alex Carreiro pediu-me o encerramento de suas funções como presidente da Apex. Agradeço sua importante contribuição na transição e no início do governo. Levei ao presidente Bolsonaro o nome do embaixador Mario Vilalva, com ampla experiência em promoção de exportações, para Presidência da Apex;, publicou o chanceler.

Carreiro, no entanto, ignorou a publicação de Ernesto e foi trabalhar no dia seguinte, afirmando que somente Bolsonaro poderia demiti-lo. Em 10 de janeiro, o chefe do Executivo federal confirmou a exoneração do então presidente da Apex. No ensejo, Ernesto emplacou Vilalva, cujo perfil era bem mais adequado para o cargo. Consta na página da Apex que o embaixador ;possui vasta experiência em postos estratégicos no exterior e no Brasil, notadamente com foco em promoção comercial internacional;.

No período, teve início uma nova disputa de poderes, dessa vez, dos diretores contra o chefe nomeado por Ernesto. O Correio apurou que parte da insatisfação se deve a uma aproximação de Vilalva com os militares. Fato é que ele publicou uma portaria retirando poderes de Letícia e Coimbra, que ficaram impedidos, inclusive, de realizar contratações, vide a situação de Paulinho Vilela.

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira