A quarta-feira, 3, começou bem para o mercado de juros, com taxas em queda, mas que gradativamente foi se apagando até que, no começo da tarde, viraram para cima e passaram a renovar máximas na última hora da sessão regular. O evento do dia, a audiência do ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara nesta tarde, acentuou a cautela dos investidores com o andamento da reforma da Previdência, em função do clima hostil que marcou a sessão, principalmente na primeira parte. "Esperava-se que o ambiente fosse um pouco melhor, mas os deputados estão pegando pesado, o que dá a dimensão da dificuldade que vai ser essa tramitação", resumiu o estrategista de renda fixa da GS Research, Renan Sujii.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou a etapa regular na máxima de 6,515%, de 6,485% na terça no ajuste. A do DI para janeiro de 2021 subiu de 7,021% para 7,06% e a do DI para janeiro de 2023, de 8,122% para 8,21%. A taxa do DI para janeiro de 2025 encerrou na máxima de 8,76%, de 8,662%. Na sessão estendida, continuaram subindo, com novas máximas.
A questão política foi o que predominou no mercado de juros, com tudo o mais em segundo plano, incluindo o ambiente externo que foi amistoso, ainda alimentado por sinais de que Estados Unidos e China estão perto de um acordo comercial e menor apreensão com o Brexit. As taxas estiveram extremamente sensíveis ao que acontecia na sessão.
A audiência teve momentos de tensão e provocação, com bate-boca entre Guedes e deputados da oposição, que questionavam sobretudo a implantação do sistema de capitalização previsto na Proposta de Emenda à Constituição (PEC). As taxas passaram a renovar máximas em sequência e, na medida em que o ministro se acalmou e se desculpou, saíram das máximas, mas ainda em alta. "Com a maior franqueza, não cabe a mim entrar no debate político. Tenho que dar explicações e não preciso me exaltar, me desculpe", disse Guedes. O ministro, bastante contestado pelos parlamentares em múltiplos aspectos, defendeu a necessidade de que a reforma tenha impacto de R$ 1 trilhão nas contas públicas em dez anos e que caso o texto aprovado tenha "potência menor", o Executivo não vai enviar a proposta do sistema de capitalização.
A esperança é de que a entrada em ação do presidente Jair Bolsonaro, que volta nesta quarta da viagem a Israel, na defesa do texto possa reverter parte da aparente rejeição à proposta vista na CCJ. Bolsonaro tem, nesta quinta, uma série de encontros com presidentes de vários partidos para tratar do tema. Segundo o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), após a rodada de conversas, o governo vai fazer o convite aos partidos e "abrir as portas".