Após quatro sessões seguidas de queda, o dólar fechou em alta nesta quarta-feira, 3, com investidores adotando uma postura defensiva em meio a preocupações com o andamento da reforma da Previdência no Congresso Nacional.
Depois de passar a maior parte da parte da manhã e o início da tarde em terreno negativo, em meio a um ambiente externo benigno após sinais de acordo comercial entre China e EUA, o dólar se firmou em alta e renovou sucessivas máximas no decorrer da participação do ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão e Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
Com mínima de R$ 3,8347 e máxima de R$ 3,8795, o dólar fechou a R$ 3,8780, alta de 0,55%. Apesar do repique desta quarta-feira, o dólar ainda acumula queda de 0,97% em abril, já que fechou março na casa de R$ 3,91.
Segundo operadores, a exaltação do ministro em meio a ataques previsíveis da oposição durante audiência na CCJ lançou dúvidas sobre a capacidade de Guedes para conduzir as negociações com o Congresso e expôs as falhas na articulação política do governo Jair Bolsonaro. Chamou a atenção o fato de os partidos em tese da base aliada terem deixado parlamentares contrários à reforma serem protagonistas na inquirição ao ministro.
As altercações entre Guedes e deputados começaram já durante a fala inicial do ministro. Depois de dizer que o sistema de repartição estava condenado a falir, por conta da dinâmica demográfica, e afirmar que a questão fiscal da Previdência era incontornável, Guedes abordou a ideia de introduzir o sistema de capitalização. Foi quando parlamentares começaram a criticá-lo e mencionaram o Chile, país em que vigora a capitalização. Guedes se enervou e ironizou os deputados: "O Chile tem quase o dobro da renda per capita do que o Brasil, acho que a Venezuela está melhor". Em seguida, o ministro disse que não deveria ter reagido às manifestações dos deputados. "Cometi o erro de interagir, eu só devia ter falado. Assim que interagi, vocês transformaram em outra coisa", afirmou.
O operador de câmbio da CM Capital Markets Thiago Silêncio destacou a sincronia entre os momentos de exaltação de Guedes e os repiques do dólar ao longo da tarde, o que mostra o quanto os negócios estão sendo influenciados no curto prazo pela expectativa em relação à Previdência. Silêncio ressalta que já se esperava um clima hostil na CCJ e que o mercado também já embutiu nos preços a perspectiva de desidratação da reforma. A surpresa ficou por conta do destempero do ministro logo no início dos trabalhos na comissão. "Guedes começou bem, com uma apresentação técnica, mas caiu na provocação dos deputado. Isso colocou em dúvidas o papel dele, um ministro técnico, na articulação política do governo e deu uma amostra das dificuldades para aprovação da PEC", disse Silêncio, lembrando que Guedes passou toda a tarde de terça reunido com parlamentares para explicar a proposta do governo.