A atuação do Banco Central (BC) ajudou a controlar a alta do dólar ontem. Na véspera, quando a divisa norte-americana ficou bem perto de R$ 4, em meio a troca de farpas entre o presidente Jair Bolsonaro e o chefe da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o BC anunciou um leilão de linha com o compromisso de recompra de US$ 1 bilhão. Esse montante se juntou ao que já estava previsto, de US$ 3 bilhões em linhas que venceriam no começo de abril. Foi a primeira intervenção no câmbio da autoridade monetária desde o fim de 2018.
Também ajudaram a sinalização de trégua entre o Planalto e Maia, a indicação do relator da reforma da Previdência, assim como o fato de o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmar que assume a articulação com o Congresso nas negociações para a aprovação da PEC da reforma da Previdência, após um encontro com o democrata.
Segundo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a estratégia do leilão de linha em vez de swap cambial foi apenas uma questão de ;timing;, mas deixou a entender que a autarquia pode voltar a atuar no mercado de câmbio em caso de muita volatilidade. ;Vamos sempre fazer intervenções visando suprir a liquidez. O câmbio é flutuante. Não existe estratégia de trocar linhas por swaps. Havia um comportamento disfuncional (do mercado) e o timing foi apropriado para fazer isso (os leilões);, afirmou durante sua primeira entrevista coletiva, durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).
Projeção
No relatório, a autoridade monetária assumiu o crescimento mais fraco da economia e reduziu a projeção de alta do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano de 2,4% para 2%, em linha com o mercado e abaixo da estimativa de 2,2% do Ministério da Economia. Manteve as expectativas de inflação estáveis para o ano, o que indica estabilidade da Selic (taxa básica de juros) no nível atual, de 6,5%, na ausência de choques e ou correções com a atividade econômica, segundo fontes do mercado.Campos Neto reconheceu que as incertezas na área política estão provocando volatilidade maior nos mercados, mas os debates internos da autarquia abstraem as mudanças fortes de curto prazo ao avaliar o cenário econômico, que considera três itens de risco: ociosidade, ambiente externo e agenda de reformas. ;Houve enorme ganho no passado recente com essa política de tentar abstrair o ruído do curto prazo;, afirmou.
O presidente do BC reconheceu que houve divergências entre os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre ;o peso de cada um desses fatores; na última reunião, apesar da decisão de manutenção da Selic no menor patamar da história. ;Tivemos a preocupação de manter a narrativa que tinha sido descrita anteriormente. E olhar os três fatores que têm sido determinantes;, justificou. Contudo, admitiu que caberá à autoridade monetária realizar a análise do balanço desses três componentes de risco na próxima reunião do Copom. ;Vamos sempre reavaliar o cenário e atuar quando for necessário;, enfatizou.