Jornal Correio Braziliense

Economia

Crise política agita o mercado, faz a bolsa desabar e o dólar disparar

Preocupação de investidores com fragilidade política do governo e dificuldade de implementação da agenda econômica faz Ibovespa cair 3,57%. Moeda norte-americana vai a R$ 3,95, com alta de 2,28%. Cenário de cautela no exterior aumenta nervosismo



Com o governo dando sinais fortes de fragilidade, o que pode comprometer o projeto de reforma da Previdência, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) desabou ontem, e o dólar disparou. Como bem definiu um operador, foi um dia para esquecer. O Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas no pregão paulista, cedeu para 91.903 pontos, com perda de 3,57%. Foi o segundo maior recuo diário desde a greve dos caminhoneiros. Os analistas preveem novas quedas, caso o governo não consiga se entender com o Congresso.

Os mesmos investidores que empurraram a Bolsa ladeira abaixo jogaram o dólar para cima. A moeda norte-americana encostou nos R$ 4, dando o tom do tamanho da desconfiança em relação aos rumos da reforma da Previdência. Eles ficaram ainda mais assustados depois da derrota do governo com a aprovação, pela Câmara, do Orçamento Impositivo. A divisa estrangeira encerrou os negócios em alta acentuada, de 2,28%, sendo negociada a R$ 3,955 para a venda. Durante o pregão, a moeda alcançou os R$ 3,96. Foi o maior valor de fechamento desde 1; de outubro de 2018 (R$ 4,017).

A queda da Bolsa e a alta do dólar se acentuaram durante o depoimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Ele deixou clara a disposição de sair do governo se os projetos de ajuste fiscal, entre eles, a reforma da Previdência, não andarem, e o Legislativo insistir em pautas-bomba, como a do Orçamento Impositivo.

Além da conjuntura doméstica nada animadora, contribuiu para a aversão ao risco o cenário cauteloso no mercado internacional, em meio ao tumultuado processo de saída do Reino Unido da União Europeia, e as declarações do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, apontando riscos para o desempenho econômico da Zona do Euro.

Tempestade perfeita

Na visão de Ivo Chermont, economista-chefe da Quantitas Asset, o dia foi marcado pela ;tempestade perfeita;. ;É difícil separar os fatores exteriores dos domésticos. Foi um pouco dos dois. Dados fracos da economia dos Estados Unidos, assim como a inversão da curva de juros, levantam questionamentos sobre uma possível recessão naquele país. Isso eleva a corrida para qualidade de economias consolidadas. Nesse cenário, o investidor tende a retirar dinheiro de países arriscados (como o Brasil);, explicou.

Segundo Chermont, a nova derrota no Congresso ;mostra a desorganização e a falta de pulso do governo na agenda política. Enquanto a cúpula não se organizar, o mercado continuará a se estressar diante da incerteza;, disse. ;A derrota do governo, além de mostrar a força do Congresso, evidenciou o descompasso entre os parlamentares e o discurso da equipe econômica;, completou Reginaldo Galhardo, gerente de Câmbio da Treviso Corretora.

* Estagiário sob supervisão de Vicente Nunes


  • Lucro da Vale salta 391%

    A mineradora Vale encerrou o quarto trimestre de 2018 com lucro líquido de US$ 3,786 bilhões, salto de 391% em relação ao observado no mesmo período de 2017. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, o aumento chegou a 168%. Em 2018, o lucro somou US$ 6,860 bilhões. O valor é 24,6% superior ao observado um ano antes. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado somou US$ 4,467 bilhões no intervalo de outubro a dezembro, alta de 8,7% na relação anual. No ano, o Ebitda ajustado alcançou US$ 16,593 bilhões, crescimento de 8,1%. A receita líquida, por sua vez, chegou a US$ 9,813 bilhões no quarto trimestre do ano passado, crescimento de 7% na relação anual. No acumulado do ano, a receita somou US$ 36,575 bilhões, aumento de 7,7% na compração a 2017