A frustração do mercado com o cancelamento da participação do ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, para esclarecer dúvidas dos parlamentares, anunciado ainda pela manhã desta terça-feira, 26, colocou os juros de médio e longo prazos em trajetória de alta até o fim da sessão regular. Já as taxas curtas oscilaram moderadamente e terminaram perto dos ajustes de segunda-feira, uma vez que a ata do Copom apenas reforçou a percepção de que a Selic deve ficar estável nos próximos meses, embora parte dos profissionais continue vendo espaço para um corte na taxa básica.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou em 6,465%, de 6,450% de segunda no ajuste, e a do DI para janeiro de 2021 terminou na máxima de 7,09%, de 7,021% de segunda no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2023 subiu de 8,172% para 8,24% e a do DI para janeiro de 2025 encerrou em 8,83%, de 8,762%.
As taxas estavam em baixa logo após a abertura, dando sequência ao voto de confiança dado na segunda-feira ao governo na questão da Previdência quando o presidente Jair Bolsonaro pediu aos ministros "foco total" no tema esta semana. Mas o clima azedou ainda pela manhã quando anunciado o cancelamento da participação do ministro na CCJ, que argumentou ser necessário primeiro a definição do relator.
O presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), disse que o relator deve ser definido esta semana. Houve acordo para que Guedes compareça à Comissão na quarta-feira da próxima semana, dia 3, ainda "a convite".
O economista da Necton Investimentos, André Perfeito, diz que, como a CCJ não está pacificada, "o ideal seria mesmo Guedes não ir antes da definição do relator. "Mas o problema é que ele disse que ia. Sua 'não ida' criou uma situação mais difícil porque os deputados estão se sentindo desprestigiados. E Congresso não se desprestigia, é arrumar encrenca. O custo de aprovação das reformas tende a ficar mais caro", afirmou.
Outra notícia mal recebida pelo mercado foi a de que Bolsonaro estava no cinema pela manhã, enquanto a Economia divulgava que Guedes não iria à CCJ. Fontes nas mesas de operação viram o fato como um 'despropósito' diante da crise política, um dia depois do presidente pedir ampliação dos esforços a seus ministros para defender a proposta.
Na ponta curta, os movimentos foram mais contidos. A ata do Copom foi considerada em linha com o que já havia trazido o comunicado, sinalizando que o Banco Central deve demorar a mexer na Selic. Diante de tantas turbulências no cenário político, a mensagem é de que o melhor é deixar como está, mesmo porque o Copom considera que a taxa de 6,50% segue em patamar estimulativo.