Jornal Correio Braziliense

Economia

Cautela, serenidade e perseverança em decisões têm sido úteis, reitera BC

O Banco Central reafirmou nesta terça-feira, 26, por meio da ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), que "cautela, serenidade e perseverança" nas decisões sobre juros, "inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de seu objetivo precípuo de manter a trajetória de inflação em direção às metas". O trecho da ata retoma uma ideia que já aparecia no comunicado da semana passada do Copom, quando a Selic (a taxa básica de juros) foi mantida em 6,50% ao ano pela oitava vez consecutiva. A primeira vez que o BC citou estes três fatores como referência para a tomada de decisão foi na ata de dezembro do Copom. O destaque dado a estes conceitos desde dezembro ocorre em meio ao surgimento de percepção, em parte do mercado financeiro, de que o BC poderia iniciar um ciclo de novos cortes da Selic - e não de elevação. Isso porque a atividade econômica segue fraca, enquanto os índices de inflação estão controlados. Porém, ao citar "cautela, serenidade e perseverança" nas decisões, o BC tem sugerido que será criterioso ao iniciar um novo ciclo, para um lado ou para outro. Balanço de riscos O Banco Central também voltou a registrar nesta terça, por meio da ata, que seu balanço de riscos para a inflação tornou-se simétrico. Até o encontro de fevereiro, o colegiado avaliava o balanço como assimétrico, com peso maior para os riscos inflacionários. No comunicado da semana passada, quando manteve a Selic (a taxa básica de juros) em 6,50% ao ano, o Copom já havia promovido um rebalanceamento de riscos. Na ata desta terça, o colegiado voltou a afirmar que existem fatores de risco em ambas as direções: a desinflacionária e a inflacionária. No primeiro caso, o BC repetiu que "o nível de ociosidade elevado pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado". No caso dos riscos inflacionários, o BC repetiu que "uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária". Além disso, a instituição lembrou que o risco ligado às reformas "se intensifica no caso de deterioração do cenário externo para economias emergentes". Desta vez, porém, a visão trazida pela ata e pelo comunicado da semana passada é de que os riscos desinflacionários e inflacionários têm agora o mesmo peso - daí a simetria. Observação O Copom do Banco Central ainda reafirmou na ata que "julga importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, com menor grau de incerteza e livre dos efeitos dos diversos choques a que foi submetida no passado". "O Copom considera que esta avaliação demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo." Estes trechos foram novidade no comunicado do encontro da semana passada, quando o colegiado manteve a Selic pela oitava vez consecutiva. Ao sinalizar a intenção de observar o comportamento da economia "ao longo do tempo", sendo que essa avaliação não será concluída no "curto prazo", o BC reforça a percepção, presente em parte do mercado financeiro, de que terá cautela antes de se decidir por mais cortes da Selic ou pelo início de um ciclo de alta. Tanto é que, na ata desta terça, a instituição também repetiu a ideia de que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação. Esta abordagem já aparecia tanto no comunicado da semana passada quanto nos documentos publicados pelo BC no ano passado. "Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente", disse o colegiado na ata, ao tratar da decisão. Em outro trecho da ata, o BC voltou a defender a continuidade do processo de reformas e ajustes na economia brasileira, visto como "essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia". Ao mesmo tempo, o BC repetiu na ata a ideia de que "a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes". No documento, o Copom reiterou ainda que a atual conjuntura "prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural". De acordo com o BC, a decisão de manter a Selic em 6,50% ao ano na semana passada "reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2019 e, com peso gradualmente crescente, de 2020".