Isso faz com que a plataforma tenha uma atenção especial com os motoristas locais. Conforme o executivo, os usuários brasileiros passam, em média, uma hora e meia no aplicativo por dia. É nessa jornada diária que a plataforma virou um item indispensável nos carros.
Na entrevista a seguir, Esposito fala dos investimentos que a empresa tem feito para tornar o aplicativo mais preciso e seguro para os usuários. Ele revela também que o Waze tem trabalhado com os governos para apresentar planos e melhorar o trânsito no país. Na avaliação do executivo, parte da solução dos problemas de mobilidade passa pelas pessoas. Mesmo com todo o avanço tecnológico, Esposito vê no compartilhamento ; as tradicionais caronas ; uma alternativa para resolver o gargalo. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.
Como o Waze avalia o mercado brasileiro?
O Brasil é um mercado muito grande e um dos mais relevantes para nós. O país é o maior mercado da América Latina e um dos cinco maiores do mundo em número de usuários. Para se ter uma ideia, a cidade de São Paulo tem 4,5 milhões de usuários ativos. São, em média, mais de 988 milhões de quilômetros rodados por mês. Tem também o Rio de Janeiro, com 1,7 milhão de motoristas usando o aplicativo mensalmente. A gente trabalha muito e evoluiu muito as funcionalidades para atender a vida do usuário brasileiro.
O aplicativo funciona em todas as cidades brasileiras?
Sim. Naturalmente, estamos onde há maior concentração de população, como as principais capitais e grande regiões metropolitanas, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Campinas e outras. Mas, em qualquer canto do país o usuário pode colocar alertas e se beneficiar da plataforma.
O Waze consegue calcular quantas horas, em média, o motorista que usa o aplicativo economiza no trânsito?
O Waze é uma plataforma colaborativa. Então, as pessoas que estão no trânsito naturalmente ajudam as outras pessoas que estão vindo depois ao colocar alertas. A gente não fala especificamente de quantas horas. Mas ele é um esforço colaborativo. Quanto mais as pessoas colocam alertas, quanto mais elas usam o aplicativo, melhor fica a experiência para todo mundo.
Então, parte da evolução do aplicativo depende da interação do usuário.
Cem por cento. Tudo o que ocorre no Waze e todas as melhorias são baseadas nos usuários. Por exemplo, temos uma comunidade de editores de mapa que é muito forte no Brasil e nos apoiamos muito nela. Os membros dessa comunidade, voluntariamente, vão editando e melhorando os nossos mapas. Além disso, os motoristas que estão usando o aplicativo ajudam os outros usuários que estão em volta, informando situações que ocorrem no caminho de quem segue no mesmo trajeto.
Como funciona a estrutura do Waze para fazer o aplicativo funcionar?
Temos 475 funcionários no mundo trabalhando o tempo todo para aprimorar a plataforma. O Brasil é um grande escritório, assim como Tel Aviv (Israel), onde o Waze foi fundado. Temos também presença importante em Nova York (Estados Unidos) e outros grandes mercados.
Como a empresa consegue se manter rentável?
O nosso negócio é focado em anúncios. Temos uma plataforma baseada em geolocalização.
Como é isso?
Os nossos principais parceiros estão focados principalmente em entrar em contato com o consumidor durante a jornada dele para alguma oportunidade de consumo. Então, nosso negócio é baseado nisso. Temos quatro formatos de anúncio. Um que chamamos de pin, com os logos das marcas no mapa, onde você mostra para os usuários os negócios que estão nas rotas deles. O nosso maior formato é o que chamamos de ;Zero-Speed Takeover;, que é quando o motorista para o carro e aparece um banner indicando uma oferta ou algum negócio relevante perto dele. Temos também o formato de busca patrocinada. Muitas vezes, o usuário está procurando um shopping ou algum negócio que está dentro do shopping que pode ter alguma novidade. E ainda temos o comando de voz. Basicamente, são marcas que querem uma experiência um pouco mais imersiva com os usuários e podem trocar o comando de voz do aplicativo.
Que tipos de parceria o Waze tem buscado?
O Waze tem muito valor como plataforma de publicidade para todo negócio que tiver um ponto físico. Pode ser um supermercado, um varejista, um posto de gasolina. Temos uma afinidade muito grande e um modo de trabalho muito próximo com esses anunciantes.
O motorista não pode se sentir invadido com alguma modalidade de anúncio?
A experiência do usuário é fundamental para nós. Pesquisamos isso com bastante frequência e usamos os feedbacks para entender como os anúncios são percebidos, que mensagens são mais relevantes, inclusive para melhorar a experiência do usuário e de nossos parceiros. No anúncio específico quando o carro está parado, ele vai sumir automaticamente assim que o veículo se mover. Ou, então, o motorista pode eliminá-lo com um simples toque na tela do celular.
A empresa tem registrado crescimento nesses anos de operação no país?
Olhamos desde a construção da plataforma e percebemos que o negócio está consistente e segue crescendo. Conseguimos desde o início fazer um esforço muito grande de educação no mercado, de transferência de conhecimento e aproveitar essa área de marketing de mobilidade.
O que a empresa tem feito para ampliar a presença no Brasil?
Temos uma série de iniciativas que estamos levando para o mercado brasileiro. Um grande exemplo é o Waze Carpool, que é nossa plataforma de carona solidária. O objetivo é que o usuário do Waze que está fazendo o trajeto compartilhe um assento em seu veículo e aí tenha uma ajuda de custo por isso. Mas também ajude uma pessoa que eventualmente sairia de carro para que ela deixe o veículo em casa uma vez por semana e vá de carona com alguém. Não é para ser uma fonte de renda, mas para compartilhar uma rota que o motorista já faria. Até por isso limitamos o número de caronas que podem ser concedidas.
Existe algum número que mostra o crescimento desse serviço?
Temos hoje 20 parceiros e mais de 60 empresas que estão com a gente desde o lançamento, e os resultados são relevantes. São empresas como Natura, IBM, Nubank, que estão trabalhando com a gente para promover o Waze Carpool dentro de seus ambientes e diminuir o impacto que elas geram no trânsito. Se parar para pensar, são empresas grandes, com muitos funcionários, e naturalmente sofrem com o gargalo da mobilidade.
Quais medidas de segurança estão sendo tomadas pelo Waze para evitar que motoristas caiam em áreas consideradas violentas?
A segurança é uma prioridade para nós em todas as iniciativas que fazemos, desde a expectativa que temos em como o usuário interage com o aplicativo. A gente quer que ele coloque o celular no painel do carro e não mexa no aparelho enquanto dirige. Temos uma funcionalidade que foi lançada no Rio de Janeiro, que usa dados públicos sobre segurança, e demarca essas áreas consideradas sensíveis. Acabamos de lançar isso também em São Paulo.
O Waze mudou o jeito de o motorista dirigir?
Acho que muitas coisas mudaram com a adoção de tecnologias. O Waze é mais uma alternativa que as pessoas usam e hoje podem colaborar com quem está em volta. Acho que o mais relevante e mais positivo da plataforma é a colaboração que as pessoas fazem dentro dela e ajudam quem está vindo atrás.
Hoje os motoristas são dependentes do Waze?
Não digo dependentes, mas o usuário brasileiro passa muito tempo no trânsito. Em média, as pessoas passam 1h30min no Waze por dia, que é um número relevante. Então, elas enxergam o aplicativo como um grande parceiro, um grande amigo. A gente ajuda a otimizar as rotas e melhorar o tempo de chegada, dar mais visibilidade para onde estão os problemas. O brasileiro é apaixonado pelo Waze.
O Waze ajuda a fugir do trânsito, mas não livra completamente dos congestionamentos, que são um dos principais problemas das grandes cidades. O que é possível fazer para resolver esse entrave?
A infraestrutura é um gargalo natural. O que a gente tem e costuma dizer é que parte da solução dos problemas de mobilidade passa pelas pessoas também. Obviamente tem o poder público e cobramos isso. Mas passa pelas pessoas.
Como assim?
Se pararmos para pensar, você olha todas as estatísticas de qualquer órgão. O número de pessoas por automóvel nas grandes cidades é muito baixo e isso gera um gargalo cada vez maior. Então, quando você compartilha um assento no seu carro, você está fazendo parte da solução. Isso vai impactar na vida de todo mundo que vai fazer o mesmo trajeto que você. É esse tipo de iniciativa que vai transformar o trânsito.
Como o Waze tem contribuído com os governos para melhorar a mobilidade nas cidades?
Temos um programa chamado de Connected Citizens Program. Nele, o Waze compartilha dados dos alertas em tempo real com os centros de operações das prefeituras e outras entidades de interesse público. Nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, os dados da plataforma foram usados para a tomada de decisões sobre mudanças e criação de rotas dentro da cidade. As autoridades chegaram a notar queda de 24% no trânsito em alguns horários de pico.
Os veículos autônomos vão começar a tomar conta dascidades em um futuro próximo. Como o Waze está se preparando para essa transformação?
A mobilidade em si está em transformação e os veículos autônomos são uma das revoluções. Daqui até lá há uma série de coisas que precisam acontecer. A principal delas, que acho que deve ser uma revolução tão consistente quanto essas, é a do compartilhamento. Talvez essa seja a grande mudança e é o que a gente quer desenvolver neste momento.
Você poderia explicar melhor?
Se todas as pessoas que tiverem carro autônomo saírem no mesmo momento para voltar para casa, elas vão continuar paradas. Sem dirigir, mas ainda presas dentro do carro. Então, o que a gente quer e o primeiro passo a ser dado é essa questão do compartilhamento. As caronas são necessárias.
Os números do Waze
; Mais de 115 milhões de usuários ativos mensais no mundo;Disponível em 51 línguas
;Disponível em mais de 185 países
;Wazers no Brasil gastam mais de 1h30min no aplicativo todos os dias