Em 2018, o Brasil beneficiou-se do confronto econômico entre as duas potências, após a China ter sobretaxado produtos agrícolas oriundos dos EUA. Com isso, na época, a exportação de soja do Brasil, ao país asiático, aumentou consideravelmente. No entanto, neste ano, diante do avanço nas negociações para o fim do conflito, o Brasil, que foi beneficiado no ano anterior, deve sofrer revés. Recentemente, a China vem se comprometendo, com os EUA, a voltar a comprar a commoditie norte-americana, em um movimento que deve sinalizar a iminência do fim do confronto entre os dois países.
De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), a China foi o principal destino das exportações brasileiras em 2018, somando US$ 64,2 bilhões em produtos exportados, com destaque para a soja, que, no ano, representou 43% (US$ 27,34 bilhões) de todos os produtos exportados. Já os EUA, no mesmo período, ocuparam a segunda posição em relação a produtos exportados, destacando-se a exportação de aeronaves (6,8%), totalizando US$1,94 bilhão.
Na visão de José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as falas de Bolsonaro reforçaram o elo comercial entre Brasil e China. ;O que ele falou é verdade. Está sinalizando tendências mundiais em níveis de commodities, Gostando ou não, a China tem um peso considerável e é o nosso principal parceiro comercial. No entanto, hoje, 98% do que o país compra do Brasil são commodities. Quem sabe, amanhã poderemos negociar, com a China, a compra de produtos manufaturados. É um mercado potencial. Mas, antes de tudo, precisamos reduzir nosso ;Custo Brasil;, o qual hoje, gira em torno de 30% do que produzimos;, explicou.
Ainda de acordo com Castro, um possível desfecho da guerra comercial entre EUA e China já impacta a exportação da soja brasileira para o país asiático. ;O Brasil não só perde em termos quantitativos, como também em termos monetários. Essas negociações entre os dois países podem condicionar a China a comprar mais commodities, e, com isso, deixar o mercado brasileiro em um nível mais baixo;, completou. Já na visão do economista César Bergo, por tratar-se da principal pauta comercial do Brasil, a China deveria ser o destino do primeiro encontro bilateral do Chefe do Estado.
;Na minha visão, Bolsonaro deveria, primeiramente, visitar a China, antes dos Estados Unidos. A China, apesar de ter aspectos de uma economia emergente, mas que cresce cerca de 6,5% ao ano, integra, juntamente com o Brasil, os BRICS (grupo político de cooperação composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e é o nosso principal parceiro comercial. O posicionamento geopolítico do Brasil, no mundo, se alinha mais à China que aos Estados Unidos;, analisou.
No entanto, segundo Bergo, pesa, entre os fatores de escolha para visita aos EUA, a força da economia norte-americana, além da proximidade ideológica entre Bolsonaro e Trump. O Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano, em 2018, foi de 2,9%, surpreendendo o mercado, que estimava um avanço menor. ;Não se pode ficar fora dos Estados Unidos, a começar pelo tamanho de sua economia. A expectativa é que as relações entre os dois países sejam fortalecidas. Anteriormente, por meio das políticas anteriores, as tratativas entre os dois países foram afetadas, e é importante um resgate. Vejo com bons olhos;, finalizou.
Mauro Rochlin, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que, apesar da declaração óbvia do presidente, a China visa obter presença em mercados não convencionais. ;A China tem toda essa importância pelo fato de que, em um primeiro momento, que já não é de hoje, buscar estar presentes em mercados não tradicionais, como África, América Latina, tanto como importadora, como também pelo investimento estrangeiro direto;, contextualizou.
De acordo com ele, o Brasil, que recentemente ocupou o espaço vago pelos EUA no que tange a exportação de commodities, como a soja, em decorrência da sobretaxa do produto, deve criar políticas que aperfeiçoem suas relações comerciais. ;Os Estados Unidos sobretaxaram os produtos chineses, e houve uma retaliação. Nessa conjuntura, houve um favorecimento ao Brasil, mas acho que são ganhos pontuais. A longo prazo, ao pensarmos em maximizar receitas, que não seja por fatos fortuitos como esse;, disse, explicando que um eventual acordo do fim do confronto tarifário pode interromper as exportações, em recorde, da soja brasileira ao país asiático.
*Estagiário sob supervisão de Anderson Costolli