Com a recente alta dos preços dos alimentos, a população mais pobre foi a que mais sofreu com a inflação. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nos últimos 12 meses até fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 4,16% para os que têm renda mais baixa. O número é maior do que a taxa oficial, que marcou 3,89% no último mês.
Isso ocorre, segundo a pesquisadora do Ipea Maria Andréia Parente Lameiras, porque 25% do que as pessoas mais pobres consomem está nos supermercados. Segundo ela, os produtos alimentícios estavam em níveis mais baixos entre 2017 e 2018, por conta das duas maiores safras. No segundo semestre do último ano, porém, os preços começaram a aumentar. ;A inflação das famílias de renda mais baixa vinha bem abaixo das demais. No momento que isso começou a mudar, houve uma reversão;, afirmou.
A desempregada Laurineide Ribeiro de Freitas, 30 anos, sentiu o aperto. Para ela, tudo está caro. ;Feijão, carne, arroz, tudo está alto;, reclamou. Com cinco pessoas dentro de casa, ela contou que as contas estão fechando no aperto. ;São três crianças e meu marido, que trabalha como jardineiro. Nós já substituímos, evitando comprar carnes mais caras;, disse.
Ela afirmou que o marido é o único que trabalha, sendo a principal fonte de renda da família. ;Tem vezes que passamos necessidade, mas sem dívidas. O aluguel é caro, mas tentamos sempre fechar o mês bem;, destacou Laurineide. Em fevereiro, o Ipea verificou que a inflação das famílias de renda mais baixa foi de 0,51%, sendo que 0,36 ponto percentual foram puxados apenas por alimentos.
Já para os mais ricos, a inflação perdeu força com os preços dos combustíveis. No ano passado, o barril tipo brent do petróleo chegou a custar mais de US$ 80, elevando os valores da gasolina no país. No último trimestre de 2018, houve queda no mercado internacional, permitindo segurar os reajustes nos postos. Além disso, o dólar, que alcançou R$ 4,20 no período eleitoral, desceu consideravelmente, variando entre R$ 3,70 e R$ 3,85 atualmente.
De acordo com o Ipea, a inflação para a população de renda alta e renda média alta é de 3,67% e 3,73% no acumulado de 12 meses, respectivamente. Ou seja, a diferença de índice entre os mais ricos e pobres chega a quase 0,5 ponto percentual no período. A pesquisadora ressaltou que, apesar da perda no poder de compra mais forte entre os mais pobres, a tendência é de que esse intervalo diminua ao longo do ano.
;Os ricos não gastam nem 10% com alimentação. Em compensação, despendem muito com combustíveis, que tem dado um alívio para a inflação. Alguns outros serviços estão desacelerando, o que também beneficia os que ganham mais;, disse Maria Andréia. ;Mas a tendência é de que esse pequeno descolamento entre os grupos ao longo do ano suma, e a inflação apresente variações mais parecidas.
Quem ganha mais, entretanto, também reclama dos valores dos alimentos. Mesmo ao realizar pesquisa nos supermercados, a funcionária pública Nadir Angélica declarou que os preços estão altos. ;Tudo está muito caro, principalmente feijão e verduras. Eu fico pulando de mercado em mercado, mas não adianta;, contou.
* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira