São Paulo ; O acesso a crédito é uma dificuldade histórica para pequenas e médias empresas. Com as restrições impostas por grandes bancos, o caminho para muitos acaba sendo o uso de produtos financeiros desaconselháveis para situações como o reforço do fluxo de caixa ou investimento em ampliação. Entre eles estão o cheque especial e o cartão de crédito.
Para as fintechs, dificuldades como as enfrentadas pelas PMEs têm representado uma oportunidade de crescimento. E sai na frente quem conseguir agregar, além da tecnologia, soluções que atendam a outras necessidades. Um dos produtos financeiros que vêm ganhando espaço nesse contexto é o chamado ;peer-to-peer;.
Essa modalidade de empréstimo, enquadrada como Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP), conecta investidores e tomadores de recursos e foi regulamentada pelo Banco Central em abril do ano passado.
A modalidade, que tem de um lado pessoas que aplicam dinheiro e, de outro, empresas ou outras pessoas físicas em busca de empréstimos, foi descoberta pelos colegas Daniel Gomes e Nicolas Arrellaga durante um período de estudos em Londres, em 2011.
Quando voltaram ao Brasil, eles tiveram de enfrentar a falta de regulamentação desse tipo de produto pelo BC, que na época exigia que esse tipo de operação estivesse atrelada a uma instituição financeira sob sua regulação. Para não perder tempo, os sócios começaram a estruturar a Nexoos no Paraguai, onde nasceu Arrellaga.
Meta elevada
Atualmente, a Nexoos opera nos dois países e seus sócios já planejam a expansão para outros mercados latino-americanos. Em pouco mais de dois anos de operação no Brasil, a fintech já intermediou cerca de 700 operações de financiamento, com um movimento financeiro da ordem de R$ 120 milhões intermediados de 2016 até 31 de janeiro de 2019. Conforme a plataforma vem crescendo, Gomes acredita que a expansão será acelerada. Tanto que a previsão é chegar ao fim de 2020 a R$ 1 bilhão de volume negociado.O tomador de recursos não tem de oferecer garantias reais para pedir um empréstimo. Por outro lado, tem de passar por um processo de avaliação de crédito bem rigoroso, baseado em algoritmos de análise preditiva, baseado em inteligência artificial. Além de dados do cadastro positivo e negativo, a plataforma consulta os bureaus tradicionais de crédito e faz uma análise do histórico da empresa. O modelo de score da Nexoos, segundo Gomes, trabalha hoje com mais de 500 variáveis graças a ferramentas como machine learning.
Os valores financiados variam de R$ 25 mil a R$ 500 mil, que têm de ser pagos em um período que vai de três meses a 24 meses. As taxas de juros vão de 1,8% a 4,5% ao mês (a média é de 2,8%). Hoje, o retorno para o investidor é de 18% ao ano. A inadimplência, contada a partir de 60 dias de atraso, é de 7,1%.
A plataforma conta atualmente com cerca de 50 mil empresas cadastradas e em torno de 1.200 já fizeram algum tipo de financiamento. Os investidores chegam a 2.200 e 20 mil estão cadastrados.
Tecnologia própria
;O empreendedor não é prioridade do banco, que costuma fazer uma análise muito superficial do seu perfil. Optamos por desenvolver uma tecnologia para fazer análise mais assertiva sobre esse perfil, 100% digital, sem a necessidade de tomar um cafezinho com o gerente do banco;, explica Gomes. Toda a plataforma foi feita pela fintech, que hoje conta com 15 desenvolvedores, de um total de 45 funcionários. Para atrair os tomadores de recursos, a plataforma investe também em ferramentas de gestão de negócios, em conteúdos para redes sociais e vídeos educativos.A Nexoos opera como correspondente bancário de uma instituição financeira ; emite cédulas de crédito bancário para o tomador de recursos e emite um Recibo de Depósito Bancário (RDB) para o investidor. O BC decidiu regulamentar a atividade com o objetivo de aumentar a concorrência no setor financeiro e assim pressionar as grandes instituições a baixar suas taxas.
A receita da Nexoos vem da cobrança de uma taxa sobre cada operação. Mas para acelerar a expansão, a fintech deve buscar uma nova rodada de captação de recursos neste ano.
À medida que a operação avançar e ganhar mais escala, segundo Gomes, a tendência é de que a fintech se desvincule de uma instituição financeira. ;Estamos fazendo uma transição nessa direção, porque será preciso investir, aumentar o patrimônio e contar com um time específico de compliance. Vai ser um modelo com mais solidez. No modelo atual, a Nexoos utiliza algumas instituições financeiras para prestação de serviço, o que também é mais difícil para o BC acompanhar. Mas no novo modelo passaremos a ser supervisionados diretamente pelo Banco Central;, detalha o sócio-fundador.