A sexta-feira foi de queda para os juros futuros, estimulada pelos sinais de maior fraqueza da economia global que deve resultar em políticas monetárias mais frouxas nos países centrais e sinais de maior comprometimento do presidente Jair Bolsonaro na defesa da reforma da Previdência. Essa combinação resultou em redução de prêmios especialmente na ponta longa, enquanto as taxas curtas tiveram recuo bem mais moderado, mas, ainda assim, sem se abalar com o IGP-DI de fevereiro acima da mediana das estimativas.
No fechamento das 18h, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou em 6,465%, de 6,480% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2021 recuou de 7,192% para 7,14%. O DI para janeiro de 2023 terminou com taxa de 8,27%, de 8,362%, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 8,892% para 8,80%.
A trajetória descendente das taxas começou, na verdade, no fim do pregão de ontem, após Bolsonaro publicar no Twitter mensagem sobre a Previdência. Mas ganhou força mesmo nesta sexta-feira com o payroll norte-americano muito abaixo do esperado - criação de 20 mil vagas de trabalho em fevereiro ante previsão de 185 mil -, na esteira de indicadores de comércio exterior na China decepcionantes. Isso, um dia depois das revisões em baixa nas expectativas de crescimento e inflação na zona do euro anunciadas pelo Banco Central Europeu (BCE). Nesse contexto, vai se consolidando a percepção de que os juros pelo mundo devem seguir em patamares baixos.
"O efeito do payroll foi muito forte na curva americana e, obviamente, por arbitragem acaba chegando aqui", afirmou o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito. A avaliação de que a economia dos Estados Unidos, a exemplo da Europa, dá sinais de cansaço elevou a demanda pelos Treasuries, provocando queda nos rendimentos.
A gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos, Patricia Pereira, viu também papel decisivo da mudança de postura de Bolsonaro com relação à Previdência no comportamento das taxas. "Desde a 'live' de ontem, ele vem 'bombando' suas declarações sobre a reforma. Antes tarde do que nunca. Com o governo se envolvendo mais, o mercado corrigiu um pouco do pessimismo recente", afirmou.
Após comentar no Twitter e no Facebook sobre o tema ontem no fim do dia, hoje, depois de cerimônia no Planalto, ele disse que a proposta pode ser aprovada ainda no primeiro semestre. "Não pode levar um ano para aprovar uma reforma, né?", declarou. Reforçou que os militares vão participar da reforma e que "ninguém ficará de fora". "Vão entrar até os militares com sua cota de sacrifício", garantiu.
Ainda sobre a proposta, o ministro da Economia, Paulo Guedes, mostrou, em entrevista exclusiva ao Estadão, publicada pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, otimismo sobre a tramitação ao afirmar que "o mapeamento indica faltar apenas 48 votos para a PEC da Previdência passar na Câmara". No plenário da Casa, são necessários 308 votos para a aprovação do texto. Ele disse ainda que "Bolsonaro fará sua parte" para garantir aprovação da reforma neste ano.