Jornal Correio Braziliense

Economia

Na volta do carnaval, juros têm viés de alta com dólar

O mercado de juros futuros abriu em leve alta nesta volta do feriadão de carnaval. O movimento na abertura foi em linha com o dólar forte ante o real e moedas emergentes. Assim que a valorização da moeda americana ante a brasileira perdeu força, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) marcaram mínimas, ainda que sob viés de alta. A agenda fraca limita os fatores de influência das taxas de juros, enquanto o investidor assimila o noticiário político dos últimos dias envolvendo a cúpula de Brasília e, sobretudo, o presidente Jair Bolsonaro. O DI para janeiro de 2021 abriu a 7,19% ante 7,162% no ajuste de sexta-feira. Na mínima, marcou 7,17%. O DI para janeiro de 2023 iniciou a sessão a 8,33% ante 8,302% no ajuste de sexta-feira. Na mínima, marcou 8,31%. O DI para janeiro de 2025 abriu a 8,89% ante 8,842% no ajuste de sexta-feira. O DI para janeiro de 2027 começou o dia a 9,21% ante 9,171% no ajuste de sexta-feira. A liquidez ainda é baixa. O Relatório de Mercado Focus, divulgado excepcionalmente nesta quarta ao meio-dia pelo Banco Central, teve como única alteração relevante a queda de 2,48% para 2,30% da projeção de crescimento do PIB em 2019. As projeções para IPCA e Selic não sofreram mudanças. Se de um lado a agenda econômica é pouco relevante, o noticiário político dos últimos dias absorve a atenção do investidor, que busca assimilar eventuais consequências para a agenda econômica. A polêmica protagonizada pelo presidente Bolsonaro ao publicar um vídeo obsceno no Twitter (na terça à noite) foi recebida por agentes do mercado como mais uma fonte de ruídos numa já, excessivamente, frágil construção de apoio popular e parlamentar para o ajuste fiscal. "Bolsonaro ainda não saiu da campanha e parece que ainda demorará um tempo para entender isto", disse ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) o diretor de uma gestora de fundos de investimento. "É uma perda de foco ruim. O mercado começa a aprender a lidar com esse comportamento do presidente", diz o analista e sócio da Levante Rafael Bevilacqua. "O presidente se coloca numa posição, onde as pessoas podem facilmente atacá-lo. Isso me surpreende vindo de um militar", diz o analista da Eleven Financial Raphael Figueredo, que considera postagens em redes sociais como a de ontem prejudiciais ao andamento da "agenda que importa". O tuíte do presidente da República sobre obscenidade é notícia nos jornais internacionais, como The New York Times. Nos últimos dias, surgiram algumas evidências no noticiário político da dificuldade do governo em construir um bom canal de comunicação com o Congresso, na avaliação do estrategista da BGC Liquidez, Juliano Ferreira Neto. "Tem ficado cada vez mais evidente que o governo não tem controle ou grande influência sobre o Congresso hoje, mesmo vindo se esforçado para estabelecer esse canal", diz Ferreira Neto. Ele menciona a pressão que tem sido feita para que um deputado do PSL assuma a relatoria da reforma da Previdência. Além disso, o estrategista também cita outros "ruídos" na cúpula do governo, como a declaração do vice-presidente general Hamilton Mourão, que lamentou a demissão da cientista política Ilona Szabó, e a demissão do diplomata Paulo Roberto de Almeida, de 68 anos. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Almeida afirmou que foi demitido por criticar Olavo de Carvalho. Na agenda da semana, o destaque é o tradicional leilão de LTNs, LFTs e NTN-Fs na quinta-feira, 7, e o IGP-DI de fevereiro na sexta-feira, 8.