Jornal Correio Braziliense

Economia

Para sair do sufoco, times brasileiros negociam criação de criptomoedas

A exemplo do Atlético e do Fortaleza, seis times brasileiros negociam criação de suas criptomoedas. Tecnologia pode facilitar geração de receitas e abrir chances de negócios


As moedas virtuais, também conhecidas como criptomoedas, estão revolucionando o mundo das finanças e criando novas oportunidades de negócios e investimentos. Mas elas não se limitam às grandes transações de Wall Street ou movimentações entre bancos. Construídas com a tecnologia blockchain, as criptomoedas começam a se consolidar também como importantes fontes de receita para o esporte, desde clubes de futebol até entidades que representam diversas modalidades mundo afora. No Brasil, os pioneiros a criarem suas próprias moedas virtuais foram o Atlético, com o Galocoin, e o Fortaleza, que lançou o Leãocoin. Essas cédulas digitais possibilitam a comercialização de produtos esportivos e de ingressos de jogos, ou mesmo receber doações de torcedores e empresas apoiadoras ; uma alternativa viável para aliviar o caixa dos sempre endividados clubes brasileiros.

O sucesso do sistema foi tão grande que, segundo o empresário José Rozinei da Silva, CEO da Footcoin, empresa que customiza as criptomoedas para o esporte, há seis clubes em negociações avançadas, interessados no modelo. ;O diferencial da plataforma é que, além de incentivar novas receitas, integra fãs, jogadores, mercado financeiro, patrocinadores e clubes ou times de futebol;, afirma Silva, sem revelar nomes e valores envolvidos. ;O uso da moeda via blockchain gera a segurança de que os valores transacionados sejam rastreados e destinados adequadamente, gerando um ciclo virtuoso na relação clube e torcedores;, acrescenta.

Segundo ele, o Footcoin.club, em operação desde outubro, já reúne mais de 11 milhões de adeptos no país. ;As moedas virtuais, lideradas pelo Bitcoin, têm se mostrado como ativos com melhor desempenho nos últimos 10 anos. A valorização delas superou a S, Dow Jones e Nasdaq nesse período;, analisa Anthony Pompliano, da divisão de ativos digitais da agência de investimentos americana Morgan Creek.


Salvação

É inegável que o Footcoin pisou nos gramados do futebol para, direta ou indiretamente, servir como ponte de salvação dos endividados clubes brasileiros ; e se transforme em um salvo-conduto para as maiores equipes. Um balanço da consultoria de marketing Sports Value calcula que, até a temporada 2018, os clubes acumulavam um rombo de R$ 6,75 bilhões atribuídos a dívidas fiscais, processos trabalhistas e juros bancários.

Entre os que estão em apuros se destacam Botafogo (R$ 719 milhões), Internacional (R$ 700 milhões), Fluminense (R$ 560 milhões) e Vasco (R$ 506 milhões). Os prejuízos dispararam 77% nos últimos quatro anos. Nesse mesmo período, a inflação acumulada chegou a 43%. Do total dos quase R$ 7 bilhões, 37% (ou R$ 2,5 bilhões) se referem a obrigações fiscais e multas da Receita Federal. E a dívida cresce à medida que esses encargos, ações judiciais e juros avançam. Em 2011, por exemplo, o Fisco autuou o Atlético Paranaense em R$ 85 milhões. Santos, Goiás e Coritiba também sofreram processos na Justiça.

Investir em jogador é opção

A recuperação das receitas dos clubes é vista também como importante iniciativa para garantir o nível do esporte. Com ou sem o dinheiro da Footcoin, os endividados clubes do futebol brasileiro não param de contratar a peso de ouro. Os investimentos em reforços na janela de transferências chegaram a R$ 287 milhões entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019. Segundo a TransferMarket, o Flamengo liderou o giro financeiro do mercado: R$ 91,8 milhões. A cifra inclui os R$ 15 milhões de salários anuais ao meia Gabigol e a mesma importância ao uruguaio De Arrascaeta, que deixou o Cruzeiro. Em segundo, Palmeiras, com R$ 91,3 milhões. Na sequência, São Paulo (R$ 43,2 milhões), Atlético (R$ 20,7 milhões), Corinthians (R$ 19,4 milhões), Santos (R$ 12,7 milhões), Grêmio (R$ 5,8 milhões), Inter (R$ 1,4 milhão), além de Fluminense, Cruzeiro e Botafogo que, escorados em parcerias, teriam tido custo zero.

As operações por meio das Footcoins contam com parceria com grandes operadoras de cartões de crédito, como a Mastercard, algo que aumenta o potencial de compra pelos interessados por meio da moeda virtual do time preferido. Cada moeda vale um real, o que dá segurança ao investimento concluído. O desenvolvimento do sistema foi concebido pelo próprio José Rozinei da Silva, especialista em modelagem de estruturações financeiras no mercado de capitais, com apoio de André Gregori, ex-sócio do BTG Pactual e atual CEO da Thinseg, eleita uma das 100 empresas mais inovadoras no mundo. O desenvolvimento virtual recorreu aos investimentos de R$ 15 milhões do Fundo de Capital San Francisco, para quem os dois executivos atuam como sócios. ;Nosso alvo não era lançar apenas um token, mas sim um marketplace;, afirma Silva.

Uma parceria da Footcoin com a Kipstone Bank permite a emissão de cartões pré-pagos, que viabilizam compras on-line da moeda. A taxa de adesão é de R$ 25. A mensalidade custa R$ 6,50. Há tarifas de recarga. Uma das novidades é a hipótese de usar a plataforma para investir em determinados jogadores. As oscilações do atleta se refletem no investimento. O bom desempenho na carreira do craque se converte em lucros eventualmente assegurados no futuro, especialmente nas milionárias transferências ao exterior. ;Aí, a moeda terá muita valorização;, acredita Silva. ;É uma forma de observar a destinação que se dá ao caixa do clube;, lembra o executivo.

A Footcoin abre alguns horizontes que vão muito além do futebol. Na terça-feira, dia 27, a empresa lançou em Portugal uma idêntica estratégia de investimentos, mas aplicada ao Kickboxing e Muaythai, encarados como chances de negócios tanto na Europa quanto na Ásia. As pessoas podem investir nos lutadores. Será destinado um percentual de 5% aos atletas de baixa renda e aos refugiados.