Jornal Correio Braziliense

Economia

'Sem reforma da Previdência, país cai de cara na recessão em 2020', diz Sachsida

Responsável pelos estudos técnicos do Ministério da Economia que embasam as razões para convencer os congressistas a aprovar a reforma da Previdência, o secretário de Política Econômica (SPE), Adolfo Sachsida, diz que daqui a cinco anos, em 2023, poderá haver dois "Brasis" diferentes: um com a aprovação da reforma em franco crescimento e outro sem ela, mergulhado em profunda recessão e sem empregos. Ele avalia que os ventos pró-reforma são favoráveis agora e que a proposta favorece os mais pobres. O secretário rebate as críticas da oposição de que o estudo da SPE mostrando o impacto da reforma é exagerado. Segundo ele, o estudo é até mesmo conservador e baseado em análise técnica e profunda. Pelo estudo, a taxa de desemprego pode chegar a 15,1% em 2023 sem a reforma da Previdência. Já, com a reforma, poderão ser criados quase 8 milhões de empregos no período. A seguir, os principais trechos da entrevista. Os críticos consideraram exageradas as previsões do ministério sobre o impacto da reforma da Previdência. Qual a sua avaliação? Eu não vi economista dizendo isso. Nos grupos de economistas de que eu participo não teve isso. A rigor esse número chama a atenção, mas não é diferente do que vimos no passado. O nosso documento mostra que, de 2019 a 2023, se aprovada a reforma, teriam R$ 5,8 mil a mais de PIB per capita. De 2014 a 2016, o PIB per capita caiu R$ 3 mil. O aumento do desemprego de 2014 para 2017 foi de 6,8% para 12,7%. Da mesma maneira que caiu, o que eu esperaria agora era que subisse muito. Houve uma crise. Passa uma reforma, eu esperaria um aumento grande. Esses números estão bem conservadores. Quando se olha o aumento do desemprego de 2014 a 2016, foi gigantesco. A taxa bateu 14% da população economicamente ativa. Foi um movimento muito grande. Com a aprovação da reforma, o cenário de melhoria pode até ser mais rápido? Pode ser. O que estou dizendo é que nosso cenário é conservador. E também está muito próximo do cenário de mercado. Tem de olhar que em 2023 vão existir dois 'Brasis'. O Brasil com a reforma e sem a reforma. Não posso comparar o Brasil de hoje com o da reforma. Vamos ser honestos, se essa reforma não passa, é natural que o País entre em recessão. Não tem o que fazer. Os nossos dados apontam que, no segundo semestre de 2020, sem a reforma, nós já estaremos em recessão. O Brasil, sem reformas, vários empregos que existem hoje vão deixar de existir. E o Brasil com reformas vai criar emprego. Os oito milhões de empregos são a diferença do cenário sem reforma para o com a reforma. Tenho certeza que quem entende sabe que o número não está superestimado. É um número amplamente defensável. Vamos divulgar nesta semana a nota técnica com as contas. O ministério vai mostrar como chegou a essas previsões? Com certeza. Só não divulgou a nota técnica porque é razoavelmente complicado fazer isso. Deixamos o detalhamento técnico para fazer depois. É modelagem difícil de várias equações. Não estamos descolados das estimativas de mercado. O que acontece é que o mercado fala que existe uma probabilidade de 80% de a reforma passar. O que assumimos é que ela vai passar. É natural que nossa estimativa fique um pouco acima. Os números não são exagerados. É o contrário, se não aprovarmos a reforma, a recessão é que vai ser dura. Eu tenho certeza que, se perguntar para qualquer analista o que acontece se não aprovar a reforma, ele vai dizer que tem recessão de cara em 2020. Nosso texto ainda dá uma 'espaçozinho' para começar a recessão. A economia trava. Não tem como. Se não corrigir um déficit de R$ 300 bilhões por ano da Previdência, como vai corrigir o problema da economia? O trabalho da SPE é de defesa da reforma da Previdência? É um trabalho técnico, sólido e com modelagem de ponta. É a nossa narrativa. Estamos montando a estratégia de defesa da parte econômica. É bom deixar claro que a defesa da reforma é feita pela secretaria especial de Previdência. O secretário Rogério Marinho é excelente. A mobilização pela reforma está boa? Eu vejo um ambiente muito mais propício para a reforma. Está todo mundo confiante. O senhor é funcionário público e vai ter aumento da alíquota de contribuição. Como se sente? Graças a Deus! Eu me sentia muito mal antes. Estou nessa elite de funcionários públicos. Todo mundo está sendo chamado a contribuir. Políticos, magistrados, funcionários públicos de alto escalão... Por isso, ela é justa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.