Economia

Arthur Andersen muda de nome e cresce no Brasil

Empresa envolvida no escândalo fiscal da Enron está de volta sob nova marca. Com uma diferença: abandonou a área de auditoria para se especializar em consultoria tributária

postado em 12/02/2019 06:00
Empresa envolvida no escândalo fiscal da Enron está de volta sob nova marca. Com uma diferença: abandonou a área de auditoria para se especializar em consultoria tributária

São Paulo ; Dezoito anos depois do escândalo que abalou sua reputação de forma quase irreversível, a Arthur Andersen, agora com a marca Andersen Tax, lida com o desafio de crescer e ganhar clientes ; e restabelecer a credibilidade que tinha até o começo dos anos 2000, quando foi condenada por fraude contábil.

A tarefa de expandir a marca no Brasil está nas mãos de Leonardo Mesquita e Bernardo Oliveira, que nunca trabalharam na antiga Arthur Andersen. Os dois foram sócios de uma concorrente, a PwC (ex-Pricewaterhouse). Mesquita atuou por 25 anos na PwC; Oliveira, por 18. ;É complicado não ter um histórico na empresa, porque afeta o networking;, diz Mesquita, que é sócio-diretor da Andersen para a América Latina. ;Contamos com nossos contatos feitos na época da Price.;

O segundo capítulo da história da Andersen no Brasil começou em 2015. No período, Mesquita e Oliveira já tinham deixado a PwC e estavam à frente da consultoria tributária Inovv, fundada em 2012. ;No começo da crise econômica, buscávamos uma consultoria internacional para nos associar;, conta Mesquita. Numa pesquisa no LinkedIn, eles encontraram a Andersen. ;Achamos o site da Andersen, mandamos um e-mail para o Mark Vorsatz (presidente da Andersen), que nos colocou em contato com o sócio responsável pela expansão da marca.;

O momento era propício. ;Eles estavam planejando abrir um escritório no Brasil e buscavam parceiros;, diz Mesquita. A reunião foi em 9 de março de 2015. Em julho, o escritório em São Paulo já estava funcionando.

Atuar com a marca Andersen funcionou como uma chancela para o trabalho da antiga Inovv. ;Tínhamos 16 clientes com a Inovv. Depois que viramos Andersen, passamos a ter 160;, diz Mesquita, que explica a diferença: ;Uma marca poderosa é uma proteção para quem contrata. Quando eu era Inovv e entrava em contato com um antigo cliente dos tempos de PwC, ele me dizia que teria que convencer a matriz para me contratar. E, se houvesse algum problema, a responsabilidade pela contratação seria dele;, conta Mesquita. ;Mas, se atuamos numa marca forte, ela, por si só, é uma garantia e uma proteção para o contratante, que se apoia na credibilidade da empresa. É por isso que, assim que nos tornamos Andersen, antigos clientes me ligaram pedindo reuniões.;


Reconstrução


Até o começo dos anos 2000, a Arthur Andersen era uma das firmas de auditoria com maior credibilidade no mercado global, fazendo parte do seleto grupo ;big five;, formado pelas maiores do mundo no setor (sendo as outras a Deloitte, EY, KPMG e PwC). Em 2002, a Andersen foi condenada por fraude contábil num dos maiores escândalos empresariais dos últimos tempos ; o caso Enron (leia abaixo), que levou milhões de investidores a perderem fortunas.

Em 2005, a Suprema Corte Americana inocentou a Arthur Andersen das acusações. A absolvição chegou tarde demais. Em 2002, a marca havia sido dissolvida. Sua área de consultoria tributária havia sido comprada pelo banco HSBC e tinha novo nome: WTAS, da qual faziam parte 23 ex-sócios da antiga firma.

Em setembro de 2014, a WTAS anunciou a reconquista dos direitos sobre o nome Andersen e passou a se chamar Andersen Tax. Atualmente, conta com escritórios em 46 países da Europa, Ásia, África, Oriente Médio e Américas.

Para se dissociar da crise com a Enron, a Andersen Tax não atua na área de auditoria e é especializada em consultoria tributária. ;Recomeçamos com uma nova marca porque o nome antigo remetia automaticamente à auditoria;, diz Mesquita.

A despeito da absolvição, a ligação com o escândalo é algo com que os sócios da Andersen têm de saber lidar. Mesquita conta que, ao se apresentarem a um cliente em potencial como sendo a Andersen, é comum serem questionados sobre a ligação com a antiga marca envolvida no escândalo. ;Eles perguntam se temos algo a ver com a Arthur Andersen que teve problemas com a Enron;, diz. ;Essa ligação é automática. E nós explicamos que houve um processo judicial e a firma foi inocentada.;

Novos escritórios


A nova Andersen passa longe do gigantismo que tinha. Segundo Mesquita, o número de funcionários somados em todos os escritórios não chega a 5 mil. Em 2002, antes do fim da marca original, eram 85 mil. ;Hoje, somos muito menores do que as outras ;big4;;, diz Mesquita. ;Mas estamos trabalhando para nos tornar uma firma de serviços profissionais como elas, sem a auditoria.;

No Brasil, são 80 funcionários, divididos entre a área tributária e legal, em escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas. Há planos de abertura de escritórios em outras regiões, como Ribeirão Preto e Pernambuco. ;Hoje, a tecnologia permite o atendimento a distância;, diz Mesquita. ;Mas o cliente quer a nossa presença. Ele gosta de saber que, se pegar o telefone e nos ligar, em 30 minutos ou duas horas, estaremos reunidos pessoalmente.;

O plano é ir devagar. ;Primeiro, vamos conseguir clientes e, havendo demanda, abrir escritórios;, afirma Mesquita. Por ora, a maior parte do faturamento vem de São Paulo (capital), mas muitos clientes estão no interior de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. ;No futuro, seremos uma empresa de prestação de serviços profissionais que vai além da área tributária;, diz o executivo.

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