As taxas de juros negociadas no mercado futuro terminaram nesta terça-feira, 5, em alta nos vencimentos intermediários e longos, refletindo a cautela do investidor no aguardo de novidades concretas sobre a reforma da Previdência. Em segundo plano, também esteve a espera pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).
A alta na curva foi mais acentuada pela manhã, quando predominou certa frustração com a sinalização do governo de que a minuta da proposta divulgada na segunda-feira pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, era uma das possibilidades na mesa - provavelmente a mais rigorosa. Assim, ganharam mais espaço as incertezas sobre o grau de desidratação que a proposta sofrerá e sobre o prazo para aprovação da matéria.
À tarde, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o presidente Jair Bolsonaro fará um "cálculo político" para decidir o que fica na proposta. Ele reconheceu que Bolsonaro prefere que haja uma diferença entre homens e mulheres nesse ponto. Por outro lado, indicou que a proposta será dura o suficiente para "resolver o problema". Segundo Guedes, o objetivo é garantir uma economia de ao menos R$ 1 trilhão - mas citou duas simulações, de que essa economia seja obtida em 10 ou 15 anos. O ministro disse que há "duas ou três" versões alternativas da proposta.
A declaração de Guedes sobre o esforço fiscal acabou por promover uma inversão da alta do dólar, mas não chegou a influenciar os juros, que já oscilavam distantes das máximas do dia. Ao final dos negócios na etapa estendida da B3, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2020 fechou com taxa de 6,37%, estável ante o ajuste anterior. O vencimento de janeiro de 2021 projetou 7,00%, ante 6,98%. O DI para janeiro de 2023 teve taxa de 8,10%, de 8,06%. Na ponta mais longa, o DI para janeiro de 2025 projetou 8,63%, de 8,56% do ajuste anterior.
"A percepção que se tem é que o governo permanece utilizando balões de ensaio para medir a reação da sociedade e do Congresso ante as propostas em estudo. A proposta divulgada ontem (segunda) era bem robusta, com economia bem maior, mas o tiroteio que se seguiu acabou por enfraquecer a boa notícia", disse Renan Sujii, estrategista de renda fixa da GS Research.
O ambiente de incertezas reforça o conservadorismo dos analistas no que diz respeito à política monetária do Banco Central. Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) realiza sua reunião periódica para decidir sobre a taxa Selic. Enquanto o mercado exibe algumas apostas de corte da taxa Selic no final do ano, os profissionais consideram essa possibilidade no mínimo prematura. "Se o Copom fizer alguma sinalização diferente no comunicado de amanhã (quarta), creio que será no sentido de esfriar um pouco as apostas de queda de juros, formadas com base na inflação baixa e atividade econômica fraca", disse Homero Guizzo, economista da Guide Investimentos.