O Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil brasileira deve crescer 2,0% em 2019, de acordo com projeção divulgada nesta terça-feira, 5, pelo Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Se a estimativa se confirmar, representará o fim de um ciclo de cinco anos de quedas consecutivas no nível de atividade do setor. O PIB da construção encolheu 28% entre os anos de 2014 e 2018. No acumulado dos últimos 12 meses até novembro de 2018, a baixa estava em 2,3%.
A perspectiva tem como base a projeção de um crescimento de 2,5% do Produto Interno Bruto do País neste ano. "Há expectativa de melhora na economia de modo geral, o que tende a elevar os investimentos. E as expectativas para a construção refletem esse cenário", afirmou a coordenadora de estudos da construção da FGV, Ana Maria Castelo, durante coletiva de imprensa.
Pelo lado positivo, Ana Maria destacou a elevação da confiança de consumidores e de empresários com a definição do novo governo após as eleições, além de um quadro de inflação e juros sob controle, com tendência de redução gradual do nível de desemprego. Já entre os aspectos negativos, o principal problema é a questão fiscal e a necessidade de reformas para reequilibrar as contas públicas. "Toda a expectativa de desenvolvimento do ano está baseada na capacidade de o governo sinalizar um encaminhamento para a questão fiscal", disse.
Já no campo da construção, o nível de atividade deve ser impulsionado pelo consumo de materiais, especialmente por pequenas empreiteiras e por obras domésticas. Esse segmento deve crescer 3,5% em 2019. Já o segmento de grandes obras empresariais, que englobam mercado imobiliário, infraestrutura e prestação de serviços especializados, deve mostrar elevação de 1,0%.
A expectativa é de início das obras dos empreendimentos residenciais lançados no último ano, o que ajudará a aquecer o setor. "O mercado imobiliário deve comandar a atividade, com projetos destinados à média e alta renda, e o Minha Casa Minha Vida com um peso grande", afirmou Ana Maria. Já o segmento de infraestrutura segue com baixo nível de investimentos, ponderou. "Infraestrutura ainda é uma promessa. Tem uma agenda de concessões e obras, que se confirmarem só irão se concretizar nos próximos anos".
A queda do PIB da construção no último ano frustrou as expectativas do Sinduscon e da FGV, que esperavam o retorno do indicador para o campo positivo. De acordo com a coordenadora da FGV, os solavancos da economia nacional e as incertezas provocadas pelo período eleitoral provocaram uma desaceleração no ritmo esperado de crescimento do PIB nacional no último ano, inibindo os investimentos em construção, especialmente em infraestrutura. "Havia expectativa de que haveria reversão do quadro de queda em 2018, o que foi frustrado", disse.
Por outro lado, Ana Maria avaliou que houve uma amenização do cenário, com retomada dos lançamentos e das vendas de imóveis, redução dos distratos, expansão dos financiamentos imobiliários e aumento na confiança de empresários e consumidores. "O ano de 2018 não foi positivo, mas pode ser considerado um ano de 'despiora'. As taxas não passaram para o campo positivo, mas ficaram menos ruins", explicou.
MCMV
A faixa 1 do Minha Casa Minha Vida - que é destinada à população de baixa renda e que recebe subsídios do Tesouro Nacional para o acesso à moradia - deve seguir paralisada neste ano, de acordo com estimativa do presidente do Sinduscon-SP, Odair Senra. "A faixa 1 deve ficar hibernada enquanto o problema fiscal existir", afirmou, durante coletiva de imprensa.
Segundo Senra, não existem, no momento, discussões dentro do governo federal ou entre as entidades empresariais para reativar a faixa 1, mas ponderou que há interesse em retomar as conversas. "Como entidade, estamos empenhados em retomar esse assunto, mesmo que demore um pouco para se recolocar em operação", comentou.
Ana Maria Castelo disse que as contratações na faixa 1 do programa habitacional foram pequenas em 2018, com períodos de paralisação. Para 2019, a tendência é que o cenário continue, segundo ela. "Em 2018, a faixa 1 praticamente não rodou e imagino que para 2019 não será diferente. Enquanto a situação fiscal continuar restrita, é difícil imaginar que o governo vai destinar dinheiro para essa faixa", apontou, lembrando que esse cenário aumenta os desafios de se equalizar o déficit habitacional no País.