Gabriel Ponte*
postado em 05/02/2019 06:00
A estabilidade da inflação deve levar o Banco Central a manter a taxa básica de juros (Selic) em 6,5% até o fim do ano, de acordo com a avaliação da maioria dos economistas de instituições financeiras. De acordo com o Boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo BC com a expectativa dos analistas, a maioria dos profissionais do mercado passou a estimar que a Selic encerrará o ano em 6,5%, ante previsão de 7% na semana passada. Além disso, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar 2019 em 3,94%, abaixo da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que, para este ano, é de 4,25%. Caso ocorra, será o terceiro ano consecutivo no qual o IPCA ficará abaixo de 4%.A expectativa deve começar a ser confirmada hoje, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) inicia a primeira reunião do ano ; e a última sob o comando de Ilan Goldfajn, atual presidente do Banco Central (BC), que deve deixar o cargo após o Senado aprovar o nome de Roberto Campos Neto, indicado para o cargo por Jair Bolsonaro. A Selic vem sendo mantida em 6,5%, menor patamar histórico, desde março de 2018.
Na visão de Marcel Balassiano, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), a revisão da perspectiva de inflação, apontada no relatório Focus, não tem grande magnitude. ;Não é algo discrepante. O importante é que a inflação está ancorada na meta;, analisou. Segundo Balassiano, uma explicação para a redução da estimativa está no IPCA-15 de janeiro, que foi de 0,30%, abaixo do que o mercado esperava. Já a cotação do dólar, que era estimado a R$ 3,75 no fim do ano, foi revista para baixo, com a perspectiva de encerrar 2019 a R$ 3,70.
Riscos
;O BC não tem muito o que fazer no curto prazo;, disse Flávio Serrano, economista da Haitong. ;Não deve haver mudança, nesta semana, mas a comunicação deve vir diferente, a partir da assimetria do balanço de riscos, que deve diminuir. O BC deve reduzir um pouco os riscos. Do ponto de vista doméstico, por exemplo, a autoridade monetária mencionará que a ociosidade elevada, assim como a atividade econômica em recuperação lenta e gradual, trazem a inflação para baixo. Ele alertará, também, para os desafios do cenário externo, mas o balanço de risco deve vir mais equilibrado;, disse.Com os riscos controlados, alguns economistas preveem que o BC possa ir ainda mais além e reduzir a Selic para 6,25% ou até 6% ao ano. José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, disse que há espaço para a queda, mas ponderou que ela dependerá do encaminhamento das reformas pelo Congresso. ;A grande dúvida do Copom que começa hoje gira em torno do comunicado. Na minha visão, não deve haver mudança importante a ser repassada na mensagem, em termos de balanço de riscos. Até outubro, os riscos negativos eram, em níveis assimétricos, maiores que os riscos positivos. No entanto, em dezembro, na última reunião do ano, a visão do balanço de risco melhorou em relação à queda dos juros. Entretanto, o Copom não mencionará isso por agora;, avaliou.
Segundo ele, a partir do momento da aprovação da reforma da Previdência no Congresso, há espaço para a Selic cair a 6%. ;Se a reforma passar em meados do ano, o Copom pode reduzir a Selic em agosto, por exemplo. Seriam reduções de 0,25 ponto percentual (p.p) a cada encontro, mas, neste momento, o BC não arriscará. Resolvido o problema da reforma, que é o mais importante, será criado espaço para essa decisão, contribuindo para a queda do risco-país, além da não geração de pressão inflacionária;, argumentou.
Cenário instável
Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset, no entanto, vê como ;difícil; a redução da Selic, do atual nível, para o intervalo entre 6% e 6,25% ao longo do ano. ;Não vejo espaço para essa redução, justamente por encararmos um cenário internacional instável, com a guerra comercial entre Estados Unidos e China. Não subir os juros em 2019 já é uma decisão interessante. Baixar, na minha visão, parece um extremo otimismo em relação à tamanha complicação lá fora;, ponderou. Para ele, ao longo do ano, na conjuntura doméstica, os agentes econômicos observarão a condução das reformas fiscais, o desempenho do real ante o dólar, além dos números do desemprego.*Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo